segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

geada

e o inverno se anuncia
com a chegada desse vento frio
que atravessa minhas roupas,
minha pele,
minha alma
e me congela por inteira..

permaneço inerte,
aguardando obediente,
quase amedrontada,
os seus ventos gelados
e tudo que estes vão levar com eles..

minh'alma o saluta
com aquela timidez que é quase medo,
bem típica de mim..

sábado, 29 de outubro de 2011

a louca miserável que me encara do espelho

como fico miserável sem você
e como fico miserável com você, meu bem
apesar de você!

como a vida era fácil sem você!
livre, leve, simples..
apesar de um tanto vazia..

alguém, por favor, faça um check-up em mim
conserte meus miolos, meu coração e tudo o mais
e me transforme para ser feliz com você,
sem mais apesares de!

sexta-feira, 28 de outubro de 2011

A dançarina e o poeta

     Ela sabia que ele escrevia poesia e, por sinal, havia até comprado o seu livro e dado uma olhadinha ou outra. Ele sabia que ela era uma admiradora da arte - não só dessa, como de tantas outras - e que era um tanto independente e louquinha. O que ele não sabia era que ela, naquele lançamento, também havia cogitado um "e se...?". O que ele não sabia é que ela viria a ser bem mais do que uma garota meio doidinha com quem trocava meia dúzia de besteiras de vez em quando no MSN.
     Ele acompanhava as fotos da viagem dela, durante o período que ela esteve fora por aí, gostava de suas roupas e de seu ímpeto de se jogar no mundo. Ela, por sua vez, não sabia muito bem do que gostava nele, mas gostava.
     Na sua volta, quando se cruzaram pelos corredores da faculdade, ela o cumprimentou com um abraço apertado, sem nem pensar. A questão é que ela sentiu saudades dele - nem ela sabia porque e do que exatamente, mas sentiu. Ele, meio surpreso, recebeu o abraço contente e começou a olhar para ela com outros olhos, começou a pensar com mais intensidade naquele "e se...?".
Passaram horas e dias conversando - horas e dias que mais pareceram semanas, meses - e, certa vez, houve um convite. Não se sabe exatamente quem tomou a iniciativa, se foi ele que insinuou várias vezes que se ela quisesse fazer outra coisa além de dançar forró, ele iria, ou se foi ela e só ela que o chamou para uma cerveja, no meio de um desabafo, planejando desabafar mais com alguém. Com alguém que a quisesse ouvir. Os fatos são que o convite aconteceu, independente de ter ele nascido de um ato de audácia, coragem ou ingenuidade, e ele se deu a liberdade de aceitar e os dois se deram o desplante de não desmarcar com o outro.
     Sentaram no bar e os chopps foram intensificando e intensificando a liberdade entre o futuro casal. Durante a noite, ele falou sobre a sua viagem para a Europa e ela falou um pouco sobre a relação complicada na qual ela estava inserida que, por sinal, era com o amigo dele. Ele, acostumado a ouvir o lado do amigo, ouviu o lado da menina-mulher que estava à sua frente.
     Ele, a desejando, decidiu conquistá-la ali mesmo, não queria esperar. A música romântica contribuiu, mas o mérito foi dele. Disse para ela que queria desbravá-la, que se atraía pela mistério dela... E sabia exatamente como fazer. Fez-la crer (e ver) que merecia mais. Fez-la crer (e ver) quem é que combinava com ela...
     Os dois sabiam que não deviam, mas, depois de minutos e minutos com as testas coladas uma na outra, com as mãos acariciando o rosto do outro, o cabelo, o pescoço; depois de minutos e minutos fazendo que iam se beijam e virando a cara, nesse jogo que eles já sabiam onde ia dar, mas que queriam respeitar todas as fases, sem pressa, curtindo o momento e desbravando-se um ao outro... depois desses tais minutos e minutos, se renderam e se beijaram como se não houvesse o dia de amanhã, vivendo, se permitindo...
     Claro que, como tudo na vida, teriam eles que arcar com as consequências. E arcaram, juntos. Esperaram a poeira abaixar, os corações cicatrizarem e o tempo passar um pouco para que, após a confissão do que havia acontecido naquela noite, pudessem ficar juntos. E ficaram.
     E o segundo primeiro encontro dos dois foi ainda melhor que o primeiro... Os dois, na livraria, folheando livros sem ler, fazendo figuração, fingindo que estavam interessados em alguma coisa além do outro. Ela, tímida, mal conseguia encará-lo... os dois, no cinema, sentindo no peito um turbilhão de emoções... e, entre nostalgia, timidez, vontade afogada, se renderam ao desejo mais uma vez: se perderam e se encontraram, simultaneamente, num longo beijo apaixonado... E era apenas o começo.
     Ela contou, entre lençois, que o seu sonho era ser dançarina, mas acabou fazendo Direito com medo da incerteza e instabilidade da carreira... Ele contou, enquanto sorria com os olhos pela própria lembrança, do seu avô, que mal conheceu, pois morreu quando ele ainda era criança, mas que possuía uma lembrança muito forte do mesmo, "lembro como se fosse ontem", ele disse, do dia em que o seu avô confessou, num sussurar baixinho, que ele era seu neto preferido. Ela, enquanto cozinhava um macarrão para os dois, contou do seu irmão, de 10 meses, que fora adotado há 5 e de como ela o amava, mas ainda estava se acostumando com a situação... Ele contou, enquanto ela se maquiava para irem ao cinema, o porquê de querer ser poeta; disse que quer que as pessoas o leiam e encontrem paz, que quer que as pessoas o leiam e encontrem desejo de viver; disse ainda que não quer que as mulheres se apaixonem por ele ao lê-lo e sim que se apaixonem mais ainda por seus amores, por seus maridos e namorados. Ela, por sua vez, contou, enquanto brincavam um com o outro, que os seus relacionamentos, depois do seu primeiro namorado, sempre duram no máximo 6 meses. Ele ficou com medo e ela achou graça disso. Ele contou, de mãos dadas com ela pela rua, que sentia saudades da cidadezinha que havia morado na Inglaterra. Ela contou, enquanto mexia nos seus próprios cabelos falando com ele ao telefone, deitada no chão da sala com uma perna por cima da outra, cruzadas, de como amou Veneza e que, se ela se casar um dia, certamente a sua lua-de-mel será lá. Ele contou, enquanto colacava o CD que havia gravado para ela, que preferia cachorros a gatos. Ela, gateira convicta, fez cara feia, como uma criança fazendo pirraça. Ela contou, num dia qualquer, que em Florença, se apaixonou por uma pracinha e que toda tarde ia lá, ver o tempo passar, ouvir uma música gostosa e observar aquelas famílias, de italianos e gringos, mas todos apaixonados pela música, pelo verão europeu, pela vida! E acrescentou, assim, como quem não quer nada, que havia levado o livro dele para a viagem e que, um dia, o leu nessa praça gostosa, ao som daquela música que lhe tocava a alma. Ele se derreteu todo... E ela confessou que não foi só nesse dia, mas também em outros, em Budapeste, em Amsterdam, em Paris. E ele se derreteu mais ainda...
     Não chegaram a morar juntos, a casar, mas nunca mais ficaram separados, nunca mais desataram esse laço que amararam (que, por sinal, deve ter sido amarrado por ela, já que ele confessou não saber amarrar cadarços...). Havia acontecido. O "e se..." fora respondido. Eles descobriram como eram juntos e, simplesmente, gostaram. Ele para ela, nunca mais um mero poeta, calouro que de vez em quando esbarrava pelo corredor. Ela para ele, nunca mais só mais um rosto bonito, uma garota meio doidinha e independente. Eram especiais um para o outro e continuaram sendo, para sempre.

Une visite à ton esprit!

"E sob teu olhar desobediente, eu me entreguei...
Sob a lua minguante, o amor se fez
E nosso fim deu-se inexistente.
Num hesitar você me disse
“Mas não sei, mas não posso...”
Eu era para ti apenas um estranho misterioso...
Daqueles que se esbarra depois do carnaval...
Desses que se diz “Oi, amigo”
E dá-se o partir...
Mas perante o sol da lição de um verão
Você fez de mim uma nova alma em ti!
Moldou-se o amor de verão,
Através da poesia, já sem dúvidas...
You feel like home, just like I do...
Alguma coisa em seu olhar me chamava
Nessa gostosa cilada que me metia!
Eu era para ti apenas um estranho
E nas tuas mãos virei Príncipe!
E no te conhecer diário e feliz
Fui me surpreendendo com suas metamorfoses
As mil facetas de ti mesma
Nessa loucura de menina, a romântica inquieta...
Que no plano concreto e realista me descobriu
No simples cheiro de madeira, de uma mesa de bar...
E não tão tarde já estava nua!
Em teu corpo tão remarkable e amazing
Que ao elogiá-la parecia irônico...
“Estou redescobrindo a mim mesma com você”, você disse
Preenchida de medo e desejo,
Ao tomar o café, sem leite, sem sucesso...
Ao falar do querido ex,
Ao divagar sobre os futuros filhos, os que teria comigo
“Maria Clara, gosto desse nome” da sua boca saiu...
Nesse esboço de novela mexicana!
Envolto de mistério... de paixão...
E até de preguiça!
E logo eu, sempre tão do contra, 8 ou 80
Peguei-me sem remorso na saudade futura
E desenfreada, nos pés frios, quando tive de partir...
“Boa noite”, eu disse,
E no nosso lar, da nossa cama,
Perante a infinda trégua de brigas e atritos
Você virara para o lado, sem ferida
Apenas com o ombro para fora do cobertor
Deu-se já a saudade insana!
E germinou ali, de novo, nosso estranho amor..."

(Por Lucas Gibson)

terça-feira, 18 de outubro de 2011

olhar desobediente

poeta,
não consigo evitar de te olhar
sei que não devia....

mas meus olhos não me obedecem
te vejo e fico imóvel
fitando você,
me diz o que é isso?

que ímã é esse
que nasceu de sei lá onde
e me puxa pra você?

sob a lua minguante

ela,
no quarto escuro,
iluminado apenas pela lua,
dessa vez minguante
e não cheia

lua que quase não iluminava..
somente quebrava aquele breu

a menina,
ás vezes tão mulher,
agora era apenas
uma indefesa menina
uma criança perdida,
um bebê sem colo..

sozinha, como sempre fora
por que pensara que dessa vez havia de ser diferente?
nada mudou, querida..

ela,
boba que só ela,
nem sozinha
tirava sua pose de durona,
nem a lua minguante podia ver suas fraquezas...

ela,
já nem sabia o que queria
e começou a escrever
buscando no papel uma resposta
uma resposta que estava dentro dela
mas que doía consultar..

domingo, 18 de setembro de 2011

nosso fim

deixo passar,
deixo estar,
deixo a saudade
ser substituída
bem aos poucos
bem lentamente
por indiferença
por ferida curada
por nada
ou por qualquer outra coisa
que não doa tanto, sabe?

sei que passa
por isso sofro calada
ignoro meus impulsos
de ir atrás de você,
de tentar consertar,
de fazer qualquer esforço

ignoro,
melhor assim

e a ferida já está cicatrizando
criando casca,
doendo menos..

terça-feira, 30 de agosto de 2011

mas não sei, mas não posso...

meus braços anseiam
por te abraçar
meus lábios anseiam
por te beijar

meus ouvidos,
por te escutar
meu amor
meu amor
meu amor
quero dizer

aqui é tão difícil
viver sem ti
aqui é tão difícil
tentar te esquecer

ai, que dor
meu amor
e tu nem sabes
nem imaginas...
desconheces essa minha mania de ti

com água na boca,
com o peito apertado de saudades,
visto fantasias
me dobro e desdobro
busco te surpreender
todos os dias
mais e mais
mais e mais
pas suffit

mas tu
tão distraído
nem percebes
o quanto me dói
essa tua aparente indiferença..

e se?
se eu soubesse
te decifrar
tão bem como você sabe,
tão bem como faz?

se eu pudesse
te conquistar
assim, sem nem tentar,
assim, só deixando rolar, deixando estar?

mas não sei, mas não posso
por isso, desisto, amor..
agora
deixemos pra lá
porque não sirvo pra ser tua

um pedaço de mim ficou aí,
mas eu preciso seguir
sem olhar pra trás
vou por aí,
a caminhar,
tentando me encontrar
vou seguir minha estrela
e ver no que vai dar

num piscar

seguindo estrelas,
busca se encontrar

solto no mundo
solto e feliz

só e contente
completo,
fora embora de mim

cadê o vazio?
cadê a paixão?
tudo desabava

na estação,
olho nos olhos de todos
procuro em cada rosto
você

procuro em cada vão,
em cada vagão,
seu sorriso

desapegado demais,
desatou nossos laços num piscar,
assim, coisa simples
como desamarrar uns cadarços..

lição de um verão

me recebe com abraço,
colo gostoso,
já familiar

com a felicidade estampada no rosto,
com o coração mole,
que aos poucos é confortado
com o beijo sincero da filha que chegou

ela me diz:
- minha filha, sobreviveu a essa loucura, heim?
- não, mãe, não sobrevivi, eu vivi!

sobreviver, sobrevivo aqui
perdida no meio dessa rotina
deixando a faculdade, o stress, a falta de sono e de sonhos
me corroer aos poucos

sobreviver, não quero mais,
passo, dispenso

isso é pros fracos de espírito,
acomodados,
infelizes

quero Viver com V maiúsculo,
quero amar, das mais variadas maneiras possíveis,
quero me perder,
quero me encontrar

segunda-feira, 29 de agosto de 2011

you feel like home

vejo vultos teus aqui pelas ruas da españa
sinto teu cheiro,
que brota de todos os travesseiros
nos quais deito minha cabeça à noite...
os abraço,
tentando sem sucesso
te trazer pra perto.

meu (in)consiente te guardou comigo..
marcou demais, é isso!
em qualquer lugar do mundo,
te sinto..

hoje tudo o que eu queria era poder parar o tempo
te encontrar
dormir juntinho
e te sentir em carne e osso
e não só através de lembranças e delírios...

essa distância machuca,
fico fantasiando pensando se você ainda me quer
com quem tem estado
e se essas garotas que você beija
conseguem fazer você esquecer de mim..

você,
que tão feel like home to me.....
queria só um dia do teu lado agora,
tô precisando, amor!

despite everything,
você quase do outro lado do mundo,
home,
porto seguro,
the best one,
e,
mesmo no meio de tantos outros,
mesmo com todas as milhas de distância,
my only one,
já que quando penso em alguém,
só penso em você

amor de verão

bonito,
que laço é esse?
que sobrevive ao tempo e a distância

que laço é esse, heim?
que ficou conosco
que simplesmente não desatou
mesmo depois do nosso adeus
mesmo depois de eu voltar para essas terras tropicais

o laço ficou
e, junto dele, as lembranças
do seu sorriso gostoso
das nossas salsas
dançadas
ou de manhã
ou de tarde
ou de noite,
mas sempre dançadas
da sua bondade,
- coracão tão puro, de ouro
ou seria ele de cristais?
olhar que me esquentava por dentro
deitados na grama do schönbrunn
vendo a vista da cidade
ou admirando o pôr-do-sol
à beira do danúbio
cafuné gostoso
suas palavras suaves
você, na sua,
de um jeito tão sexy,
de um jeito que combina tanto comigo
e essas milhas e milhas de distância
tornando impossível esse nosso sonho

sonho que ficou em marseille,
sonho que ficou em vienna,

enfim,
impossível lembrar do velho continente,
sem lembrar de você, bonito

mas quem sabe um dia
nunca se sabe o que a vida nos prepara

mas mesmo se isso nunca passar de um amor de verão
que ficou nos parques, boates, canções..
valeu, bonito
- e como valeu! -

te espero pelas terras tropicais, bonito
mas não tarde
porque você é bonito demais
por dentro e por fora, bonito

te espero, bonito
te espero

através da poesia

ele era poeta
escrevia como se pudesse tê-la

ela transparecia em seus olhos, rosto e suspiros
a vontade que sentia ao lê-lo
como se imaginasse
que pudesse ser a sua única inspiração
como se ousasse crer
que todos aqueles poemas tivessem sido escritos para ela

ela era poeta
escrevia aflita
escrevia porque sem a poesia se sentia incompleta
e também porque era esse o jeito que havia encontrado
de se despir para ele
de deixá-lo saber como ela se sentia,
tudo o que doía nela

ele a lia
procurando nas poesias
entender o silêncio da menina

se comunicavam por poesias
e who knows someday,
como ele sempre lhe dizia..

a romântica inquieta

ela entrava na casa
ainda procurando por ele
se lembrando das frases
trocadas
imaginadas

pensando se ele também pensava nela
e como
quando
com que frequência

remoendo
o que fora verdade
e o que ainda seria,
o que ficou na vontade
e o que ficou pra poesia..

terça-feira, 14 de junho de 2011

Mil facetas de mim mesma

Hoje, me lendo, percebi que sempre vaguei por vários universos bem distintos um do outro...
Só na escola, eu era amiga dos inteligentes, da galera do fundão, dos professores, dos excluídos.. Além disso, tinha a minha família, o pessoal da igreja, do vôlei, do jazz, do ballet... Depois, o pessoal da outra escola, do inglês, do francês, da dança de salão, da faculdade, da loja, os agregados... Enfim, infinitos grupos me cercavam, companhias certas e tortas, velhas e novas...
E, em cada universo desses, eu era uma Gabrielle. Em alguns, meu lado extrovertido se sobressaía mais, em outros, minha sinceridade se aflorava, em outros, minha teimosia que era a minha marca registrada. Isso sempre me fez muito bem, pude assumir um milhão de eus, eus que são a mistura de elementos meus e elementos que estão à minha volta, eus que são a minha resposta à maneira que as pessoas me tratam, ao ambiente que frequentamos, aos assuntos que conversamos.
Nessa, vou me construindo e me conhecendo, percebendo as várias facetas que eu tenho. Afinal, nós, seres humanos, não somos uma coisa ou outra, mas sim um leque de possibilidades dentro do que a nossa personalidade nos permite. Violenta, por exemplo, está fora do que a minha personalidade me permite, logo não sou violenta com nenhuma das pessoas com quem lido. Porém, posso ser mais ou menos desbocada, mais ou menos largada, mais ou menos vaidosa, mais ou menos carinhosa... Isso vai depender de com quem estou lidando, do lugar que eu estou, da ocasião que se trata. Sou feita de todos esses meus eus... Eles são pedacinhos de mim que eu vou guardando comigo, que vão me ajudando a chegar ao produto final, que sou eu: um eu que se altera a cada dia, a cada convívio com o próximo, a cada palavra, a cada lembrança nova...
Há quem diga que essa história de mudar conforme o ambiente é errado, que é coisa de quem não tem personalidade, de quem finge ser o que não é. Discordo. Isso é balela pra mim. Mudar de acordo com o ambiente é o normal e é uma arte, a arte de se adaptar e de ser mil em um. Me diz se você é o mesmo com o pessoal do seu trabalho e com os seus amigos de infância? Claro que não! Mas a questão é que as pessoas, normalmente, não se abrem a diferentes grupos, escolhendo sempre amigos com personalidades parecidas. Assim, também se comportam de maneira parecida com eles.
Atacar uma pessoa por ela ser várias ao mesmo tempo é subestimar a complexidade da mesma, pura ignorância. Chega a ser falta de auto-conhecimento, porque todos somos mil em um, mas alguns se permitem inovar mais do que outros. O importante mesmo é que o nosso comportamento depende de diversas variáveis, mas a nossa essência é a mesma em todos os grupos, sempre: com certos amigos, você pode viver falando de política e com outros, só de futebol ou de maquiagem, mas o seu olhar, o seu cheiro, o seu sorriso vão ser os mesmos em ambos!
Andamos na terra e nadamos na água, somos feitos pra isso: nos adaptar nos diferentes ambientes. E o que é melhor: andar na terra ou nadar na água? Não tem melhor, as duas coisas podem ser maravilhosas. Nadar num mar cristalino num dia de sol impecável em boa companhia pode ser um programa inesquecível, mas quem vai dizer que passear com seu amor dentre algumas lindas ruazinhas de uma cidade igualmente linda num feriado, deixando todos os problemas de lado, não pode ser um programa tão bom quanto?

mesa de bar

beijo pra cá,
abraço pra lá,
e os comprimentos anunciam o reencontro dos amigos

tanta história pra contar,
a saudade latejando no peito,
se despedindo va-ga-ro-sa-men-te

tanta coisa que vivi que queria ter vivido com vocês,
tanta coisa que viveram que eu também queria ter estado presente,
tanto carinho,
tanta cumplicidade!

lembranças boas e histórias novas,
todas postas sobre a mesa

ouvem-se risos,
nota-se felicidade
ela está estampada nos rostos daqueles mesmos amigos

os velhos olhares,
as antigas manias,
tudo tão agradável!

vontade de que a noite não acabe,
torcida para que tenhamos outra como esta
logo,
em breve,
como antigamente

na despedida,
diversos "eu te amo" são ditos
em forma de abraços,
sorrisos
e apertos de mão

ao mesmo tempo,
aquela saudade já matada,
vai se reinstalando,
se realojando,
tudo de novo,
bem no peito

nua

você
me olha,
me sente,
me invade de um jeito
que meu peito aperta,
e as lágrimas,
ainda que contrariadas,
caem..
você me lê de um jeito..
e então estamos bem novamente
e você entende
o que com palavras não posso explicar

segunda-feira, 13 de junho de 2011

amazing

de repente,
me vejo presa a você
sem nenhuma corrente,
sem nenhuma coleira,
mas presa

presa porque não quero me afastar
presa porque ficar sem você é ruim demais
presa porque suas lembranças não me deixam mais em paz

não vejo mais porque beijar outras bocas
se eu já sei que beijar a sua é sempre melhor
não vejo mais graça em dormir sozinha,
seu lado da cama sente sua falta
o vento frio não me deixa relaxar
a falta do seu abraço deixa o meu coração apertado...

apesar de você ser mais novo,
apesar de tantas vezes parecer tão imaturo,
apesar de tentar me afastar com atitudes tão bobas,
com simples falta de cuidado... sem pensar, sem querer...

apesar de,
é por você que meu corpo chama,
é em você que eu penso ao acordar
é a você que dedico os meus versos...

apesar de,
apesar de,
apesar de,
saiba que eu amo você!

quarta-feira, 18 de maio de 2011

irônico

a menina anda a passos largos, desafiando o vento frio que vem em sua direção.. agasalhada, cheia de malas, procura o endereço que precisa em seus bolsos. descarta a identidade, a nota fiscal do supermercado, o bilhete que continha um "eu te amo" seu e que você havia colocado no bolso dela na manhã de ontem e, enfim, encontra o endereço. já está na rua certa, só falta chegar ao número 278.
"ai, que frio!", a menina pensa... e lágrimas começam a molhar sua bela pele - não pelo frio, mas por tudo, por esses últimos dias difíceis que não deixam a doce menina em paz... 260, 264, 270, 272 e 'lar, doce lar' (ou o mais perto de um lar que essa menina pode ter agora..)
ela bate em minha porta e seu rosto já diz tudo... pedindo proteção, clamando por um ombro amigo, a doce menina só quer um abraço carinhoso, uma palavra suave, um colo quentinho...
a recebo, a conduzo até o seu quarto, entrego a ela uma coberta para que se esquente, acendo a lareira e a trago um chocolate quente. ela se apóia em mim, bebe o seu chocolate quente, entre choros, soluços e olhares de gratidão...
faço-a deitar em meu colo e a tranqüilizo.. ela me pede para que eu conte a ela uma história, do jeito que a mãe dela faria se aqui estivesse... penso em contrariar, mas antes de abrir a boca decido tentar e saio falando as primeiras coisas que me vêm à cabeça... pra falar a verdade, nem sei se a minha história fez algum sentido, nem me lembro sobre o que foi direito, só sei que a fez dormir, a tirou desse mundo real, ainda que só por algum tempo.. então, levanto sua cabeça com cuidado, me retiro, a ajeito na cama, a cubro melhor e vou me deitar..
no dia seguinte, ela me acorda com um chocolate quente e senta no canto de minha cama. fala, fala, chora, chora e, por fim, me agradece. agradeceu por eu tê-la ouvido, por tê-la recebido, por tê-la distraído e não esqueceu de agradecer pelo chocolate quente e nem pela história!
nesse ponto, eu que comecei a chorar, caí em lágrimas mesmo, igual a uma criança.. expliquei a ela que há muito tempo não tinha uma noite tão boa quanto àquela, que há muito tempo esperava ansiosamente pelo dia em que ela iria me procurar, iria se abrir comigo, iria precisar de mim de alguma forma, ainda que só para desabafar, ainda que só para aliviar seus problemas.. 
"sempre bom tê-la comigo", terminei dizendo.. e, em meio a muitas outras lágrimas, ela fez que sim com a cabeça e me abraçou forte, dessa vez para nunca mais soltar-me de vez... 

terça-feira, 17 de maio de 2011

saudade futura desenfreada

a cada movimento seu
fico pensando nas saudades
que em breve
sentirei

fico pensando nas noites de sono
que em breve
as suas lembranças
me roubarão

entre
beijos e abraços
entre
sorrisos e declarações
sinto meu peito apertar..
minha voz, falhar
meu ar, se perder

não consigo mais frear, amor...
acho que meu freio tá com defeito
a ré, então,
nem se fala!
impossível retroceder,
voltar para a estaca anterior,
ignorando
nossos últimos encontros,
nossas últimas confissões...

e eu vou
me envolvendo
mais e mais
e sofrendo
por antecipação
por esse tempo
sem você..

do contra

claro, né
mais previsível, impossível

agora que não te quero mais,
você quer
você liga
você diz que não vai abrir mão..

só lamento,
mas seus velhos truques não
vão mais vingar...

seu sorrisinho não me convence mais...
suas palavras,
ainda que ditas ao pé de meu ouvido,
não me enganam mais...
seus puxões de cabelo não me arrepiam mais..

já deu de você..
falta tesão,
falta saudade,
falta verdade...

e falta
bom senso da sua parte
para me deixar ir!

quarta-feira, 11 de maio de 2011

boa noite

nossas roupas largadas pelo chão
preguiça de levantar
uma leve ressaca gostosa do
vinho de ontem nos sobe
em pequena dor de cabeça
mesmo assim
tem prazer rondando
em tudo
encaixada entre ombro e peito nus
(pele macia)
mexo lentamente
sem abrir os olhos me sente
gira
frente a frente
lábios com lábios
bom dia

ferida

todos sabem que
para ela
é tão difícil demostrar suas fraquezas,
seus defeitos,
suas tristezas

em meio a risos,
danças,
drinks
e amantes,
suas dores perdem o lugar

não sei se ela sempre foi assim,
mas se não foi sempre assim
há anos já o é...
já não lembra de como era a vida
quando não tinha esse bloqueio

então lhe chega você,
assim,
de repente,
querendo realmente saber
tudo o que dói nela!

ela, menina,
acostumada com a falta de cuidado,
com a indiferença das pessoas,
se surpreende,
mas gosta..

vai se mostrando aos poucos,
se contando,
respirando
e vendo como é bom
e diferente
se abrir com quem se importa,
com quem quer nos ler
de verdade

mas,
no meio do caminho,
algo pareceu sair do controle

a ferida da menina,
de tão grande que ela,
depois de relatada
e revivida,
explodiu para fora
e agora todo mundo a via

a máscara,
já tão familiar a ela,
não lhe servia mais,
ela ficou nua,
à mostra

a questão
é que ninguém dessas pessoas
era como você..
ela nao quis
nem consentiu
com que a vissem assim,
mas sua ferida não era mais
estancável,
ela não conseguia escondê-la

foi quase um estupro..
as pessoas a vendo nua
e fazendo o que queriam
com essa visão que guardaram

julgando,
olhando de relance
em meio a comentários maldosos,
em meio a tanta falta de você...
falta do seu jeito,
da sua calma,
do seu interesse,
da sua compreensão!

só a você que ela se despiu,
só você que merecia ouví-la,
sabê-la,
senti-la..

segunda-feira, 9 de maio de 2011

ombro

"amiga",
engraçado como as coisas são, não?

embora tenhamos tantas lembranças,
embora nos conheçamos há tantos anos,
embora haja tanto carinho seu em meu peito,
parece que foi em outra vida que fomos amigas
e, por ter sido a amizade tão grande,
deixou resquícios para essa!

e hoje,
é só isso que nós somos:
resquicíos!

não quero ser cruel,
não tenha dúvidas de que te amo!
mas é que tanta coisa se perdeu entre nós...
há tanto de você que eu desconheço,
há mais ainda de mim que você nem sequer
acha que existe...

já faz um tempo
que me tornei seu ombro oficial

para mim, só lágrimas
para mim, só mágoas
comigo você só divide tristezas!

e acho que até
já me acostumei

mas o inevitável aconteceu,
deixei de me mostrar pra ouvir,
parei de falar de mim..

será que você sabe alguma coisa
que aconteceu comigo
nos últimos 5 anos?
acho difícil,
só paramos para falar de suas dores...

não sei nem se queria que fosse diferente,
sabe?
isso não aconteceu só com você,
me tornei o ombro oficial de muita gente,
e vou ajudando,
vou me dando,
vou consolando,
aceitando o pouco de vocês
que têm pra me oferecer..

isso me tornou uma outra pessoa,
o papel acaba sendo o único que sabe sobre os meus reais anseios,
sobre minhas maiores preocupações...
ele e eu,
sozinhos no mundo,
ainda que cercados por multidões!

esse meu lado introspectivo
que aprende sobre eu mesma
à medida que as palavras vão sendo escritas..
palavras
que vêm sei lá de onde,
que saem sei lá porque!
esse meu eu
combina muito com a atual você,
preocupada só com o seu próprio umbigo,
achando que só você sofre,
que só você tem problemas..

eu os ouço,
a abraço,
a consolo
e semana que vem,
quando você quiser sair para se divertir
certamente nem vai pensar em me chamar
e mês que vem,
quando eu conhecer o meu novo irmão
você nem saberá de nada,
nem sonhará com o redemoinho da minha vida

não se ofenda com essas palavras,
relaxa,
meu ombro continuará à sua disposição
quando você precisar
mas não força a barra, tá?
não cabe mais nos chamar de melhores amigas
nem me cobrar satisfações
do que eu faço
ou deixo de fazer
desde quando você quer saber?
fingir que se importa faz você sentir melhor?
me faz ser mais do que um ombro?

também tenho um rosto, "amiga",
também tenho um coração!

domingo, 8 de maio de 2011

Nosso estranho amor

Tu dormistes
Depois de uma bela noite de amor

Beijaste-me a testa respeitosamente e, em seguida, os lábios, carinhosamente.
Beijaste-me e dormistes.

Como consegues? Meus pensamentos estão a mil!

Distraio-me a olhar-te
Ou, mais do que isso,
A contemplar-te.


                       ... Sei que um dia serás completamente meu ...

Todos os poréns,
Nossos aparentes seguidores,
Serão deixados de lado,
Abandonados,
Esquecidos,
Superados.


Como posso saber? É isso que queres que eu te diga?

                       [Pois bem...]

Sei disso graças aquele momento, o qual tentamos ignorar com teimosia, fingindo que ele nunca aconteceu...
                             
                       [Você sabe...]

Aquele de depois dos primeiros beijos e abraços apaixonados em nossos reencontros, quando nos encaramos sem querer...

                       [Droga, por que ainda estamos com esses olhos fixos um no outro?!?!]

                       ... E este encontro de olhares diz muito mais do que as três palavras que não encontram forças para saírem de nossas bocas.

O frio na barriga aparece e estremeço...

Queremos parar de nos fitar, mas é inevitável,
Faz parte do script e não se pode fugir desse roteiro...

Pensamos em milhões de coisas que poderíamos dizer e não selecionamos nenhuma.
Todas elas são ditas através da luz de nossos olhos,
Mesmo que nós nem ameacemos abrir nossas bocas.

Ao nos depararmos com a verdade de que o que temos passa sim de uma mera brincadeira e que somos sim mais do que uma diversão inofensiva,...

                       - ao contrário do que afirmamos um ao outro e a nós mesmos –

... Viramos-nos de bruços simultaneamente e passamos agora a fitar o teto.

                          
                                  
                        Então,
                        Sei disso porque ele me olha também,
                        Como você faz,
                        Mas não me vê.
                        E,
                        Ao contrário do seu olhar,
                        O dele nada tem a me dizer...

sábado, 7 de maio de 2011

a saudade em forma de pés frios

só eu sei
tudo o que passo
nestas noites de frio
sem você

só eu sei sobre a dor que
me invade
por ter o pé gelado
sem o seu a ele entrelaçado

só eu sei a falta que sinto, meu bem!

ter te visto ontem
não muda nada disso,
a saudade começa a bater
no peito
segundos após a sua partida..

será que você
pensa em mim?
será que seus pés
sentem falta dos meus?

será que resta
muito de mim em você, amor?
será que eu posso
te chamar assim?

só peço que lembre de mim
quando a nossa música tocar,
quando passar pelos locais que costumávamos frequentar,
e quando o seu pé esfriar...

as meias não substituem
o entrelaçado dos nossos pés, amor...
deve ser porque com eles
também entrelaçamos nossas almas!

e a meia não, amor..
a meia só esquenta!

quarta-feira, 4 de maio de 2011

8 ou 80

eu sei que você me ligou ontem
e fingi que não ouvi o telefone tocar
ligou seis vezes
exaustivamente
eu sei,
perdão..

mas hoje até que uma dose de você cairia bem
quem sabe depois da minha aula de francês
e antes do jantar?

de repente eu até faço um jantar romântico pra gente,
levo tudo na cama,
compro um vinhozinho tinto, que tal?
assim como manda o roteiro!

maaaaas,
se não der pra gente se encontrar hoje,
talvez amanhã eu não esteja com vontade de você..

desculpa ser assim,
os homens com quem me relacionei que me acostumaram desse jeito
sendo 8 ou 80

num dia quero um amor avassalador,
noutro não quero nem que você me ligue...
tô sem saco, sem paciência

você me entende?
é o que eu imaginava...
nem eu!

terça-feira, 26 de abril de 2011

Aspettami

se você fosse uma cor,
seria certamente o vermelho

você é
gente demais,
apaixonante!
quente demais,
imprevisível!
envolvente demais,
louco!
ardente demais,
e meu!

é meu, não tem jeito
e eu sou sua!

apesar do nosso jogo,
apesar de passar por você no corredor
fingindo que não passa de mais um,
fingindo que não tô louca pra beijar sua boca,
fingindo que essa aula não é a última coisa que eu quero assistir agora..

eu sei e você sabe
que o destino quis assim
e que agora
é questão de tempo
é questão de calma
pra que eu possa me entregar de vez

me diga,
se a vida quis assim
o que seria capaz de me tirar de você?
se acordo e durmo pensando em você,
o que significam todos os poréns que imponho a nós?

então,
me espera?
ainda nem fui,
mas espera eu voltar?

amore mio,
só tô tranquila porque sei que,
com o destino do nosso lado,
ninguém ficará contra nós..

antes que você perceba,
baterei na sua porta,
chegarei de mala e cuia
pra viver tudo o que temos pra viver!

sexta-feira, 1 de abril de 2011

redescobrindo a mim mesma

hoje,
preciso de muitas doses de novidade,
muitas doses de desconhecido

há momentos em que devemos abandonar,
mudar,
nos reinventar

para isso,
temos que trocar de ares,
rasgar nossas antigas roupas,
abandonar nossas velhas verdades
sempre colocadas em pedestais, não?

e,
simplesmente,
nos aceitar como meros grãos de areia,
como meros sopros de vida!

hoje,
quero sair da minha zona de conforto,
o que ganho sempre tendo as mesmas ações?
sempre chegando aos mesmos lugares?
vou para a direção contrária
pra variar
e quem sabe onde posso chegar?

quero estranhar minhas ações,
minhas reações,
minhas respostas,
quero desconhecer o meu comportamento
quem sabe assim
percebo finalmente quem sou?
percebo finalmente o que é realmente meu
e o que foi posto em mim?

quero me conhecer
mas pra isso
preciso me estranhar
preciso viajar
preciso me tornar

a partir de então,
abomino em mim tudo o que não for realmente meu
tudo o que tenha se fixado aqui
através de uma espécie de adestramento
para que eu seja quem eu pareço ser
para que eu sinta o que eu devia sentir
para que eu faça o que querem que seja feito

é preciso se perder pra se encontrar
adeus, velhos conceitos
adeus, antigos costumes

olá, querida
tires estas roupas rasgadas
já com a forma do teu corpo,
já conhecedoras de tuas curvas..

abandones os atalhos,
pegues o caminho oposto,
em vez de correr para chegar mais rápido ao teu destino,
pares,
respires,
soltes os cabelos ao vento,
deixes a chuva molhar-te,
com calma,
sem pressa,
quem sabe o teu novo destino não te surpreenda?

sejas bem-vinda!

quarta-feira, 30 de março de 2011

café sem leite

abro os olhos e todas as palavras maldosas que havíamos dito na noite passada vêm à minha mente em dose única, tudo de uma vez... ai, que dor de cabeça, que cansaço de brigar, que preguiça de continuar com essa discussão.. discussão que eu e você conhecemos muito bem... e sabemos que não dará em lugar algum!

me levanto e ponho a mesa,
faço café,
esquento os pães,
me recolho,
sento na poltrona e,
antes de dar a primeira mordida no pão,
recheado de requeijão,
você chega

ao contrário do que eu pensava,
nada disse

fez como eu,
sentou-se
mudo

olhou rapidamente em meus olhos
e me deu um sorriso forçado
deixando transparecer
tudo o que havia se perdido entre nós

me subiu uma vontade de chorar,
mas permaneci apática

- café?
- sim, por favor

milhares de coisas se passando pela minha cabeça...

- leite?
- não, obrigado

e o medo daquele ser o nosso último café da manhã juntos me dominava...

- pode me passar a manteiga?
- claro

acho que, sem pensar,
já destruímos o que tínhamos
com coisa tão boba...
com palavras que nunca deveriam ter sido ditas,
com simples falta de cuidado..

- muito bom o café, obrigado
- não foi nada..

que pena,
o brilho nos nossos olhos se foram

- bom dia pra você!
- bom trabalho

você me dá um beijo na testa e sai,
sai por aquela porta para nunca mais voltar..

nossa novela mexicana

nossos pés enroscados,
seu abraço gostoso,
ouço algumas palavras
ditas no pé de meu ouvido
que vêm seguidas de uma mordida lenta, vagarosa,
mas que me esquenta por inteira...

meu corpo combina com seu jeito e vice-e-versa
suas inseguranças me atraem
inseguranças que nem sei de onde vêm,
que nem entendo...

se você soubesse que você
veste o tamanho das minhas vontades,
segue o meu manual de instruções,
e é na medida perfeita para mim,
ia fazer como você faz?,
ia jogar os lençois?

olha, heim,
depois você vai sentir minha falta....
e eu vou seguir o meu caminho,
a milhas e milhas de distância,
é agora ou nunca,
me prende ou me larga,
me deixa!!!

não aguento mais essa novela,
num dia agimos como namorados,
fazemos confissões,
nos apresentamos a amigos próximos,
jantamos com sua família...
no outro não somos nada
e você sequer lembra que eu existo...

olha,
só faz uma coisa,
lembre-se de mim ocasionalmente, tá?
e daqui a uns meses
quando eu estiver por aí
viajando com documento, mas sem lenço
(o lenço já foi jogado, já foi pisoteado, já foi esquecido)
sem preocupações,
sem a quem dar satisfações,
vou te mandar um e-mail
- como o prometido -
te atualizando, te contando das minhas novidades
e você vai sentir falta de enroscar o seu pé em alguém...
de além rindo de suas piadas,
de seus pais aprovando uma das garotas que você leva pra casa!

mais c'est bien....
boa sorte para mim,
boa sorte pra você!

agora sou eu que me despeço dos nossos pés enroscados,
das nossas almas entrelaçadas,
e me liberto de você!

quinta-feira, 24 de março de 2011

Nosso lar

Vô querido, aquela casa abriga tantas lembranças, tantas recordações de nossa família.. Aquelas paredes seguraram tantas fotos nossas: de nascimentos, casamentos, aniversários.. Enfim, todos ele, bons momentos!

Quando vou visitá-la, me dá um aperto! Como não te procurar? Como não te encontrar e aceitar isso numa boa? Como não recordar? E mais: como não remoer?

Nunca mais pisei naquele piso da mesma forma. Antes, por vezes, o barulho de meus pés nele já entregava a alegria que eu sentia de chegar na sua casa. Não só porque você estava lá, ás vezes você nem estava... A questão é que depois de sua morte, não há vida verdadeira lá! A ansiedade que eu sentia, vontade de chegar logo, falar com todo mundo, rir, ganhar abraços apertados, sorrisos gostosos, estar com a minha querida família, não existe mais. Não do jeito que já foi um dia.

Acho que isso aconteceu com todos nós, nos fechamos um pouco... Nos amamos muito, mas há um quê de desconforto desde que você se foi... Falta uma peça do quebra-cabeça, falta você!

Um dia nos encontraremos, né vô? Só queria que agora você pudesse ler essas palavras ou, ao menos, saber do que eu sinto, saber das saudades que você deixou, saber da falta que você nos faz, mesmo quando tudo parece bem... Falta um pouco de vida, sabe? Fica faltando alguém grosso e arrogante por fora, mas que, no fundo, é frágil e muito amável...

segunda-feira, 14 de março de 2011

Trégua?! Trêve?!

você some,
tira uns dias de folga de mim...
sem aviso prévio,
sem motivo algum,
simplesmente acaba comigo!

sua filosofia "morde assopra"
ainda vai me enlouquecer, heim?

eu sei que você me quer...
mas sua insegurança,
seu medo de se entregar,
sua confiança nesse modelo doido de relacionamento:
nossos piores inimigos!

querendo me enganar,
procuro em outras bocas o seu beijo,
procuro em jantares
avistar no cara que está à minha frente
o seu sorriso,
ouvir as suas histórias!

assim como gosto de inventar amores,
me erro quando estou amando,
tento a todo custo não me entregar,
não me perder...

no fundo,
tudo que eu reclamo de você,
faço igual!
nós,
seres humanos,
somos muito tolos, não?

proponho, portanto,
um trato!
que tal,
juntos,
abaixarmos a guarda?
que tal,
simultaneamente,
deixarmos a mordida para lá?
viva o assopro!
viva o abraço!
viva o beijo!

me rendo!
mas só se você se render...

eu sei que você não esperava por isso...
eu, idém!
mas já que calhou de nos apaixonarmos,
c'est la vie!
laissez-vous tomber amoureux avec moi!!!
laissez-moi tomber amoureuse avec toi...
m'aimes!!!
baise-moi!
bisous,
bises,
baisers,
m'embrasses!!

quem sabe em francês,
te convenço?
la langue de l'amour,
capaz de resolver todos os problemas!

s'il vous plaît,
est-ce que vous pourriez être mon amant, mon amour?
merci,
já era hora!!!

Maria Clara

que vontade de te pôr no colo
e te mimar como eu faria com a filha que eu nunca tive

que vontade de,
por um segundo,
tomar todas as suas dores pra mim!

que vontade de te poupar, querida!
que vontade de te ajudar...

mas quer saber?
embora tenha sido tudo tão difícil ultimamente,
principalmente para você,
mas também para todos nós,
de alguma maneira a situação me alegra
e sei que vai ficar tudo bem...
apesar do meu coração apertar, apertar, apertar... e ele já está miudinho!!

se pudéssemos controlar as idiotices que os outros fazem, né?
coitados, são tolos!
não ligue, querida... são meros cretinos, ignorantes!

no fim,
ele acabará sozinho...
fez por onde, né?
quase implorou por isso!

e nós não, querida
nós não, amiga...
depois dessa, não nos separamos nunca mais!

pena não poder tirar toda a sua dor,
angústia,
insegurança,
seu medo...
só por alguns minutos!
só pra você respirar....

sinto muito por tudo, querida..

você, tão novinha,
era como uma irmã mais nova para mim
quando éramos crianças

e, hoje,
tão madura...
em instantes,
amadureceu anos e anos

por isso me alegro,
meu coração se enche de orgulho de você!
quanta garra,
quanta força!

estou com você nessa e não te largo...
pode confiar,
pode se apoiar

deita sua cabeça no meu ombro um pouco, querida
respira,
chora,
desabafa!

tudo vai ficar bem,
descanse,
deixe os problemas pra lá um pouco,
pensemos nisso outro dia,
pensamos nisso no amanhã,
vamos reservar o hoje para descansarmos a alma!

sexta-feira, 11 de março de 2011

Querido ex

é estranho te beijar assim depois de tanto tempo...
alguma coisa se perdeu entre a gente,
se perdeu e não volta mais

quem sabe não tivéssemos esperado tanto, né?
tantos anos...

eu mudei tanto,
cresci,
amadureci,
sou uma outra mulher...

você também mudou
e,
apesar do outro você ter me feito sofrer muito,
não gosto de você estar diferente...
não gosto de não te conhecer...
não gosto de não termos assuntos em comum...

não sei se eu queria que fosse diferente
não sei o que eu esperava da gente

mas assim...
desse jeito,
nada ardente
nada envolvente...
assim não dá

o engraçado
é que não te vejo confortável,
assim como não fico confortável
por que,
então,
quer voltar?

acho que esse verbo nem cabe
aqui na nossa situação

é impossível voltar...
aquelas pessoas que namoraram
que se amaram tanto
não existem mais!
não somos mais nós!!!

quando conversamos,
ás vezes
vejo alguns flashs do namorado que você foi,
algumas caras e bocas conhecidas,
algumas respostas prontas que não me são estranhas..

nossos interesses nos dividem,
nossos corpos não se sentem mais atraídos como antes...
e, ainda assim,
você me diz "eu te amo"
e a única coisa que eu consigo responder
é "eu também"

não, eu não te amo!
não sei porque disse isso!
amo nossas lembranças,
amo sua pessoa,
sua família,
nosso passado,
o carinho que ficou...

mas não amo você,
não no sentido romântico!
e você também não me ama...
por que jogamos essas palavras ao vento?

parece que achamos que o outro merece ouvir
por tudo o que passamos e fomos

mas não, querido,
já foi, já passou...

você não percebe?
agora,
apesar de morarmos na mesma cidade,
estamos a milhas e milhas de distância!

Mistério

- Desvendei o mistério há pouco
- Que mistério?
- A impressão de que fazem vidas que te amo!

Passeando pelas minhas lembranças,
Não pude evitar de lembrar de todas as vezes que fantasiei um amor...

Quem ama imagina, cria, sonha com as coisas que ama...
E há muito tempo que imagino você!

Paixão

você...
uma das únicas pessoas
que realmente
falam a minha língua

e, meu deus,
como é articulado!

a gente já se entende
por olhares,
gestos,
beijos,
risos,
simples movimentos...

hoje vou me comunicar com você
por palavras,
amor

o que eu sinto por você
fala forte,
fala alto,
direto do coração

berra muito,
é dor,
é bom,
traz solidão

briga e acaba comigo...
mas em um piscar de olhos,
é só eu te avistar
que tudo o que dói passa
em brevíssimos instantes
mas continua falanto alto,
beijando forte
e me perseguindo!

Preguiça

Ficar com você me dá uma preguiça bo-ô-a...

Preguiça de acordar pra vida,
Preguiça de lidar com o resto do mundo,
Preguiça de olhar pra algum rosto que não seja o seu...

Ficar com você me dá uma vontade bo-ô-a...

Vontade de ficar dias abraçada a você,
perdida nos seus braços!
Vontade de sonhar eternamente com a imagem do seu sorriso,
ao mesmo tempo que escuto o som dessa sua risada gostosa!
Vontade de não acordar mais desse sonho...


E existe melhor maneira de estar acordada pra vida?

I don't think so...

No seu lugar

entrei na sua história, sabia?
esse é um dos meus males...

todas as suas dores,
físicas e psicológicas,
de repente,
eram minhas

no meio da rua,
as lágrimas me salutaram

e quase quis chorar mesmo
para que você dividisse com alguém
toda essa dor,
toda essa humilhação

a parte engraçada da história
é que você não me conhece
e dificilmente um dia ouvirá meu nome

sou apenas uma das suas espectadoras
uma das sensíveis demais, provavelmente

mas,
estranhamente,
fico feliz por sofrer por você

se eu pudesse,
faria só mais uma coisa:
te daria um abraço forte
e dividiria também os seus bons momentos..

Cilada gostosa

bonito,
me dá mais um beijo antes de ir?
fica mais uns minutinhos?

ah....
meu peito já começou a apertar

saber que a semana vai começar,
que a rotina maldita vai substituir
dias como esse,
tão doces,
tão bons!

quando estou com você parece sabe o quê?
parece que viajei!
sim, sim, que fiz um viagem...
dessas não muito longas
- até porque nunca temos muito tempo -
mas que tranquilizam,
que limpam,
que nos fazem espairecer

fico rindo à toa!

é tão bom sentir seus braços me envolvendo,
ouvir suas histórias,
contar as minhas,
sem coar,
sem medir,
sair falando,
conversando sobre tudo...
como é bom poder ser eu mesma assim!
sem medo....

sei tanto que você gosta de mim,
que tá nas minhas mãos

mas você faz um jogo duro, né?
tem um meeedo de se envolver..

e quando você viu...
quando se deu conta...
coitado!
já tava no meio dessa 'cilada'!

mas fica tranquilo,
no meio de tantos encontros ciladas,
com tanta coisa querendo que desse errado,
com tantas energias negativas vindas de não-sei-onde
(essa é a única explicação pra tantos encontros-furada!),
não adiantou,
a gente se gostou,
se curtiu

desiste dessa pose,
tira essa cara de machão,
abaixa a cabeça
e me dá mais um beijinho antes de ir, vai?

Saudade insana

essa insônia que não me deixa em paz

vem sem aviso,
parece que quer que eu fique acordada
por algum motivo

fico remoendo sentimentos,
sensações,
perdas,
faltas,
de quê?
por quê?
não entendo...

parece que minhas maiores saudades
são de coisas que eu nunca tive!

saudades de pessoas que não conheci,
saudades de palavras que não me foram ditas,
saudades de momentos que não vivenciei,
saudades de lugares que nunca conheci,
saudades de carinhos que não recebi...

saudade que não acaba mais,
que não cabe no meu peito
e que não se cala

cisma em me fazer sofrer
um sofrimento sem sentido
sofrer por coisas que não perdi
não perdi porque simplesmente nunca tive!

saudade insana,
será que hoje você me dá um sossego?
pode ser?
amanhã nos revemos!

Um estranho misterioso

andando rápido entre as ruas,
reparei em você

esperando o ônibus,
de terno e gravata,
misterioso,
apoiado no poste,
com uma barba mal feita,
charmoso,
fumando um cigarro

engraçado,
eu não gosto de cigarros!
pra ser sincera,
os detesto

mas não sei,
algo inocente naquela sua tragada
me hipnotizou

fiquei parada,
nem pensei em quão estúpida aquela cena estava sendo

parei e fiquei te fitando

quase quis esperar pra ver qual ônibus você iria pegar
e criar na minha cabeça toda a história da sua vida

onde mora,
quantos anos,
tem filhos? não, filhos não têm
mas é fumante

por que será que começou a fumar?
e quando?

ah, tantas coisas que eu podia imaginar,
que eu podia inventar...

acordei da distração e segui andando
olhando pra trás de relance
uma vez ou outra

numa dessas vezes,
você estava me encarando
e sorrindo
- que sorriso lindo! -
como quem lesse meus pensamentos

e se você tivesse vindo a meu encontro?
e se eu tivesse dado meia-volta?

não digo que daí sairia uma bela história de amor
isso seria clichê demais!
e essa nem foi a minha vontade ao te observar,
ao te imaginar,
te inventar,
ao te desejar

queria uma aventura com você!
tô precisando tanto me perder..

talvez um 'amor' de verão
já fora de época?

idéia interessante..

engraçado,
a imagem que criei de você
entre os lençois
tragando um cigarro
não me sai da cabeça

o que isso deve querer dizer?
estranho...

ah, meu caro,
da próxima vez
você bem que podia
me chamar de volta
ou ir ao meu encontro

uma aventura
de vez em quando
não faz mal a ninguém

Depois do carnaval...

aos poucos,
o carnaval se despede

a velocidade da cidade diminui,
os comércios voltam ao normal

as caras viram rostos de novo,
sai a maquiagem,
sai a tinta,
sai a fantasia,
sai a alegria escancarada

o ano,
por sua vez,
pensa em começar

e os foliões?
ah, os foliões!
estes começam a contagem regressiva
para o próximo ano,
para o próximo carnaval,
para a próxima festa de serpentinas e confetes!

quarta-feira, 2 de março de 2011

Alguma coisa em seu olhar

babaca,
quer saber?
cansei
cansei de atravessar a ponte

tanto a ponte física
quanto a dos meus limites

passei do ponto por você

você não percebe? não vê?

cara, otário,
você tá prestes a me perder

por que você não me leva a sério?
esse seu sorrisinho não vai resolver tudo pra sempre

você me cansa,
me irrita,
me machuca
e me fascina

não quero mais assim...
quero você por inteiro

mas me derreto,
sem querer...

você me olha assim
e te dou uma outra chance...

isso tudo porque,
de algum jeito,
não sei por que razão,
esse olhar me diz tanto,
te conheço tão bem através dele

e assim...
ele me faz apostar na gente
me faz percorrer novamente a ponte
pra te ver
me faz atravessar novamente a ponte
que separa a minha razão
- normalmente a única a quem recorro -
de minha emoção,
de meu coração,
da minha versão quando se trata de você

segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

Oi, amigo

amigo,
não sou muito de te dizer certas coisas
essas coisas
pra ser mais exata

não gosto de ficar em cima
e de ficar dizendo
com palavras,
todo dia,
o que digo sempre com
minhas ações,
com meu abraço carinhoso,
com meus telefonemas,
com minha preocupação

mas,
hoje,
agora,
aqui,
não sei,
quis te dizer

você aí
meu amigo de fé
tantas lembranças, não é?

sua história tá dentro da minha
e a minha,
dentro da sua
elas se embaralham
se confundem
se completam

você,
tão diferente daquela época que nos conhecemos
de repente,
quase não percebi,
ficou mais maduro,
cresceu,
se endireitou

e,
ao mesmo tempo,
tão igual

o mesmo riso gostoso!
o mesmo abraço carinhoso
as mesmas brincadeiras

ai, amigo!
podíamos fazer isso mais vezes, né?

combinamos de nos vermos
pelo menos
uma vez por mês

e eu sei que isso
não vai acontecer

e você sabe também

mas a gente realmente queria isso,
né amigo?

então toda vez falamos,
quem sabe
um dia
acontece

quem sabe um dia
a gente volte a ser
unha e carne?

não, amigo
isso não vai acontecer

mas,
quer saber?
não tem problema

a vida é assim...
o que importa
é que você,
pra mim,
é único
é demais
é meu camarada

então, amigo,
pra tudo na vida
estou aqui

alguma coisa vale mais do que isso,
amigo?
acho que não...

então,
só queria dizer
que te amo

e até que a sensação de te dizer isso
foi boa, amigo

que tal combinarmos
de dizer isso ao outro
pelo menos
uma vez ao mês?

Medo e desejo

você na mesa,
sentado com os amigos

eu no bar,
com a minha querida cerveja

você me olha
disfarçando
e resolvo
dessa vez
entrar no seu jogo
não sei o porquê,
mas me soou interessante

me viro no banco
passo a te fitar
e rir
sorriso no canto da boca

quando você olha,
desvio
finjo que não era com você

você
bonito
tentação
perigo
loucura

mas parece que
de algum jeito,
de alguma maneira,
só tem metade
de mim neste bar
hoje à noite

a outra metade
ficou em casa
e não prega o olho,
que insônia braba!

a outra metade
não se desprende
dos problemas,
da vida,
dos atrasos,
do cansaço,
dos compromissos

e eu,
dividida,
nem sei mais quem sou

o medo
e o desejo
me confundem

e você chega
puxa um banco
chama o garçom
"mais dois chopps, amigo!"

e não me fala nada
só me olha
me encara
ai,
mas você viu na minha alma agora, heim?

primeiro abaixo o rosto
desvio
tímida,
confusa,
perdida

depois entro no clima,
e passo a te encarar
de volta

brindamos,
bebemos,
você se aproxima

de repente,
mando a minha outra metade dormir
já tá tarde demais pra
você ficar acordada, metade

dorme, descansa,
me deixa!!!

ah,
amanhã penso
amanhã penso
nos compromissos
nos prazos
na hora
no cansaço
nos problemas
na vida real

hoje,
me deixa
me dá um tempo

o desejo ganhou,
sai, medo!

e então você percebe
percebe que me libertei
que essa noite vai ser diferente

que essa noite você vai
enfim
sair desse bar com o que você queria

pronto,
me beija logo
antes que eu desista

amanhã eu vejo,
amanhã eu penso

Uma nova alma

vem, chuva
vem rápido
me limpa
me purifica
me salva!

vem, chuva
quero te sentir molhando
meus cabelos
minha pele

de olhos fechados,
te sinto
e danço
e corro
e agradeço!

obrigada chuva,
você é tudo o que eu preciso
aqui, agora,
só,
cansada,
sem nada,
você é meu tudo
é a você que eu me apego

vem, chuva
me purifica
me lava
me limpa
faz de mim uma outra mulher

não sei nem quem
eu quero ser
o que quero fazer
só que aqui,
agora,
não quero ser eu!

cansei de mim!
quero tirar férias
de mim mesma

e só você
pode me ajudar,
chuva!

não quero ser
nem melhor
nem pior

só quero sumir,
acordar em outra vida
em outro lugar
com outras pessoas
diferente

ei, chuva!
caia mais forte,
capricha, chuva!
vem, molha,
me purifica

me purifica
me purifica
me purifica

chuva,
obrigada
amanhã vou acordar melhor
e quem sabe
em outro lugar
com outras pessoas
em outra vida?

Príncipe,

     Meu querido, como sinto sua falta! Acho que quando o Pai lá em cima resolveu te levar embora, não tinha idéia do quanto doiria aqui... Doeu muito, mas ainda dói.

     Dói muito chegar em casa e inevitavelmente te procurar e ter que me deparar com a realidade de que você não está mais entre nós... Todos os dias recebo essa notícia do meu cérebro, de algum lugar dele que simplesmente cisma em não funcionar tão bem assim, pois meia e volta esqueço que você se foi...

     Como era bom estar com você. Simplesmente estar. Meu querido companheiro, meu lord inglês. Fino, sempre elegante, educado, um gentleman! Como era bom te pegar em meus braços e sentir você de repente começando a se debater - hahah, colo não era a sua praia, né? Você não gostava de ser agarrado, de se sentir sufocado.. Mas era só eu te colocar no chão e deitar na minha cama que você vinha, de mansinho, como quem não quer nada, deitar do meu lado e simplesmente ficar comigo. Me olhava, fechava os olhinhos e quase sorria! Ai, meu amor, quantas saudades!

     Você, chegou sorrateiro, sempre como quem não quer nada, ganhando cada vez mais espaço no meu coração.

     Um gatinho tão lindo, tão querido, abandonado num cemitério. E tudo estava escrito, né amor? O amigo da minha mãe veio a falecer, ela te conheceu e se apaixonou! Como não se apaixonar por você, meu Alfie de olhos azuis?

     Veio ficar uns dias até acharmos um lar pra você... E quem disse que eu ia te deixar ir embora? Mas de jeito nenhum!!! E era um grude... Não queria nem ir pra escola pra ficar do seu lado, brincando, fazendo carinho, te amando, te amando, te amando... Mas muito, demais!

     Meu filho querido, ás vezes dá uma raiva do mundo, né? Como que pode você, tão jovem ainda, tão bomzinho, ter que me deixar assim? Como que pode você ter nascido com esse problema nos rins?

     Foi tão difícil, né amor? Você estava tão cansado... E eu também.

     Todos os dias, o soro, os remédios, todo aquele sofrimento... E você chorava, e eu chorava... E você, de alguma maneira, sabia. Sabia de tudo, sabia que eu tinha que fazer aquilo, sabia que era pro seu bem. E começou a deixar.... A parar de fugir, a se entregar.

     Amigo, até o veterinário se apaixonou por você! Me dizia sempre: " Um gato tão bom, nossa, nunca vi um gato assim! Que pena não ter boa saúde..."

     E você também amava muito o Thomas, onde já se viu isso? Fiquei até com medo de perder meu amigo, de você me trocar por ele, querer morar lá! Mas não, você gostava mesmo de acumular amigos... E sentia quando alguém gostava de você de cara! Foi o caso do Thomas...

     Você, na sua última noite, internado no Thomas, muito esperto, já sabendo do que estava por vir, não quis dormir sozinho... Miou, miou e logo foi atendido: O Thomas abriu as portas da casa dele pra você, amor!!! E você dormiu quentinho na sua última noite, né?

    Quando eu cheguei pra te ver, me despedacei.

     Tão magrinho, tão fraquinho, boquinha aberta pra respirar, osso puro... Como pode fazerem isso com você? Cadê o sentido, amor? Qual é a razão? A gente lutou tanto, mas tanto... E por quê? Ai, ai...

     Senti que você me pediu pra te deixar ir, mas eu não conseguia, não conseguia ver, não conseguia aceitar... Me desculpa, amigo. Não queria aceitar que eu ia te perder.

     Só espero que você esteja no céu dos gatos, junto da Mimi e da Panty, correndo muito, com MUITA saúde, comendo quantas fatias de presunto você quiser, namorando as gatinhas por aí, pulando, fazendo muito ronron, etc. etc. etc... Tomara que você esteja muito feliz, muito bem...

     Só faz um favor? Vê se não esquece de mim... De vez em quando, tenta lembrar da gente, das nossas lembranças, do meu amor por você... E olha por mim aí em cima? Pelo Petit também, ele sente muitas saudades suas! Até peguei uma gatinha muito linda e querida pra alegrá-lo. Pelo visto deu certo, mas ele sempre pergunta do amigão dele, insubstituível...

     Espero que um dia a gente se encontre... E, quando a gente se encontrar, você vai poder inclusive falar! Igual nos meus sonhos!!! Vamos conversar muito, horas e horas, deitados numa grama tão verde, tão verde! Vamos ficar a tarde inteira rindo, nos olhando, fofocando!!! Simplesmente estando, estando um com o outro, juntinhos, de novo!

     Você vai estar tão bonito, amigo... Como sempre foi, né? Vai ser bom demais rever esses lindos olhos azuis!

     Se há algum sentido nessa vida, nesse mundo, esse dia vai chegar e vai ser melhor do que eu imagino!

     Você se lembra que na 8a. série escrevi uma crônica sobre você pra escola? Não a tenho mais, infelizmente... Mas o título cabe bem aqui, agora: "A esperança tem olhos azuis".

     Sei que você não gosta, mas me despeço mesmo assim com um aperto, te esmagando no colo! (E com mil beijos, mil carinhos, mil olhares, mil conversas...)

     Mas quantas saudades!

     Com amor, da sua mamãe,

     Gabi



sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

Rotina

acordo,
levanto,
escolho uma roupa,
visto-a

escovo os dentes,
tomo um suco,
sapatos,
porta,
chave

chão,
passos largos,
rapidez,
elevador,
calçada,
passos largos,
tudo mais uma vez

ponto de ônibus,
rostos,
pressa,
mais um dia normal

subo no ônibus,
me aconchego,
calma,
fone de ouvido,
música,
relaxo

desacelero,
me acalmo,
a 10 km/h,
penso em você,
penso na gente,
lembro das minhas saudades

meu peito aperta,
a imagem do seu sorriso
não me deixa em paz!

quero que a semana acabe,
que o mundo pare,
pra gente se encontrar

você,
tão perto e tão distante,
tão parecido e tão diferente,

vidas tão distintas
que de repente se cruzaram
e,
em meio a olhares
que muito dizem,
transpareciam,
do nada,
duas personalidades tão semelhantes

o que houve
foi que
de repente,
nos demos bem demais
bem mais do que pensávamos
bem mais do que contávamos

você,
distante fisicamente
e, ao mesmo tempo,
tão perto,
tão próximo,
tão gostoso..

minha vontade era deixar tudo pra lá
é só você me pedir que eu largo tudo,
pra quê faculdade,
pra quê trabalho,
pra quê stress?
melhor ficar o dia todo contigo,
jogados na cama,
rindo,
nos amando,
"sem lenço e sem documento"

me pede, vai
me diz que pra você
só eu importo...

ah! chegou!
tiro os fones do ouvido,
levanto,
salto do ônibus,
passos largos,
pressa,
rostos cansados,
sono,
escadas,
elevador,
7o. andar,
passos largos,
rampa,
olás,
sorrisos com pitadas de sono
ou seria sono com pitadas de sorrisos?,
sala de aula,
um lugar vazio,
me sento,
e hoje é só mais um dia comum

quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

Tuas mãos

Lembro-me bem de ti
Lembro como se fosse ontem..

Do teu cheiro,
Teu abraço,
Teu jeito rabugento
E debochado
Tuas palavras,
Teu riso,
Tua voz
E de tuas mãos

Elas,
Já calejadas,
Com marcas do tempo
Carregando as dores da velhice
Do medo
Do câncer

Elas
Perfeitos sinais destas dores
Dores tuas
Dores minhas
Dores nossas

Tua saúde se esvaindo...
E, tuas mãos, lindas
Lindas como sempre

São as mesmas mãos
Que me carregaram na maternidade
As mesmas
Que afagavam
Meus longos cabelos loiros

Nelas,
Toda a tua história
História que se confunde com a minha
Ai, quantas lembranças tenho de nossa história!

Quantas saudades sinto
Das tuas mãos
Do teu afago
Do teu abraço
Do teu deboche
Do nosso amor,
Grande,
Imenso amor

Amor que a morte não separa,
Não transforma,
Não apaga

terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

Fidelity


"...Suppose I never ever saw you
Suppose you never ever called
Suppose I kept on singing looove songs
Just to breeeak
My own fall
Just to break my fa-ah-ah, ah-ah-ah, ah-ah-ah, ah-ah-ah-aall
Just to break my fa-ah-ah, ah-ah-ah, ah-ah-ah, ah-ah-ah-aall
Just to break my fa-ah-ah, ah-ah-ah, ah-ah-ah, ah-ah-ah-aall
Break my faaall
Break my faaall

All my friends say
That of course it's
Gonna get beh'uh
Gonna get beh'uh
Beh'uh, beh'uh, beh'uh, beh'uh
Better, better, betterrrr, ohhh...

I never loved nobody fully...
Always one foot on the ground!
And by protecting my heart truuly
I got lost
In the sounds..."

Só você

Livro novo jogado pelo chão
Tv ligada, cara amassada
Lágrimas que caem
Sem aviso,
Sem motivo,
Sem compreensão

Tantas coisas pra fazer
Mas ler não me apetece
A tv não me distrai
Só você que me satisfaz

Qual é o por quê dessa distância?
É o espaço que nos separa sua proteção?
Tem medo do quê, desculpe perguntar?
Que insegurança de se entregar!

Não quero te sugar
Nem colocar rótulos na gente
Não entende? Somos muito bons pra isso!
Muito bons pra agirmos como os outros...
Muito bons para nos confundirmos como um mero casal

Eu sou eu,
Ser sua mulher é só uma das coisas que eu sou
Um detalhe,
Um pedaço de mim,
Uma peça!
E que belo detalhe, pedaço e peça!

Você é você,
Completo
Ser meu não te transforma em apenas parte de um casal
Parte de nós dois
Isso você será
Mas será muito além
Será tudo o que já é
Amigo,
Amante,
Desejo,
Hormônios,
Gentileza,
Sorriso,
Pôr-do-sol,
Abraço

Apenas será mais
Se permita o ser
Se permita me amar,
Se entregar
Se permita crescer

Sei que sou mil em uma
Muitas, muitas mesmo
Amante de tantas artes,
Contadora de tantas histórias,
Parte de tantos grupos,
Passageira de tantas aventuras,
Quase sinto que o mundo cabe dentro do meu peito
Bem do lado esquerdo dele...

Mas,
Apesar disso,
Neste momento
Aqui,
Neste quarto
Vazio,
Sombrio,
Quase assustador,
Nada sou
Uma vez que você não está aqui comigo

Nestes últimos dias
Tenho sentido
Que o mundo cabe em mim
Mas só quero uma coisa dele...
Um detalhe
Que me aperfeiçoe,
Me faça crescer,
Me ame,
Me acrescente
Um pedaço bem pequeno de mim:
Você

Ainda que com você
Eu seja um milhão de coisas além de sua
Uma contradição me confunde
Quando percebo que
Ainda assim,
Nada sou
Sem você

Receita

Comece sua investida com uma história engraçada...
Descompromissadamente, dê-me um sorriso gostoso
Conte-me algo que me faça rir
Nessa risada, meus olhos precisam brilhar
Assim, você saberá que ela é verdadeira

De repente, me surpreenda
Me jogue do chão e me dê um beijo carinhoso
Ou, se preferir, me dê um abraço gostoso
Assim, de repente...

Sem me fazer muitos elogios,
Me mostre que está gostando
Abusa um pouco de mim...
Puxe os meus cabelos
Me chama pra perto do seu corpo
Dê um beijo na minha nuca
Esquece do relógio pra sempre e pensa só em mim

A gente tem todo o tempo do mundo
Vamos conversar com as roupas jogadas pelo chão
Sobre tudo, sobre todos
Podemos falar do tempo, de amigos, de ex-amores, do futuro, dos nossos anseios...
Nada será proibido entre nós
Tudo será diferente entre nós

Repare nas pequenas coisas que já faço por você
Coisas que gosto de fazer
Quando estou apaixonada
Quando quero que você se apaixone por mim
Desesperadamente
Quero desesperadamente
Que você me ame desesperadamente também

Pequenos gestos que muito dizem
Ai, como estou na sua mão!
Mal te dei a receita e sua obra ficou melhor do que o planejado
Do que o ensinado...

Você revolucionou o script que eu te dei
Me mostrou que nem eu me conhecia tão bem assim...

segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

Pra te lembrar

Um pouquinho de Caetano pra vida ficar mais leve...


"Que é que eu vou fazer pra te esquecer?
Sempre que já nem me lembro, lembras pra mim
Cada sonho teu me abraça ao acordar
Como um anjo lindo
Mais leve que o ar
Tão doce de olhar
Que nenhum adeus pode apagar...

Que é que eu vou fazer pra te deixar?
Sempre que eu apresso o passo, passas por mim
E um silêncio teu me pede pra voltar
Ao te ver seguindo
Mais leve que o ar
Tão doce de olhar
Que nenhum adeus pode apagar

Que é que eu vou fazer pra te lembrar?
Como tantos que eu conheço e esqueço de amar
Em que espelho teu, sou eu que vou estar?
A te ver sorrindo
Mais leve que o ar
Tão doce de olhar
Que nenhum adeus vai apagar..."