sexta-feira, 18 de novembro de 2016

as palavras

tão frágeis e poderosas,
essas junções de letras encadeadas que se articulam dentro de uma estrutura linguística
a qual chamamos idioma

essas, tão singelas,
que afagam e machucam
colorindo quem as diz e quem as escuta
de cores várias, infinitas,
que se mesclam às tonalidades do ritmo e do tom daquele que as professa

essas, que denunciam e escondem,
contam e omitem
como um fotógrafo que escolhe
delicadamente
sob o que deitar um véu
incandescente
antes de fotografar um
ambiente;

é que o não dito é sempre vitorioso,
é impossível finalizá-lo;
há sempre o que dizer adiante
ou uma nova forma de fazê-lo:
o véu está em tudo,
em todos os lugares

essas, capazes de afastar e de aproximar
produzindo inúmeras fissuras que,
por vezes,
dada a sensação de intransponibilidade  dos vãos abertos por elas,
transformam-se em calabouços e covis

por vezes outras,
inauguram pontes cintilantes
entre pessoas, grupos e nações
pontes essas tão ilusórias quanto as fissuras já tratadas
mas que, por serem contornadas por tais letrinhas minuciosamente escolhidas,
são sentidas como invioláveis,
como fortalezas
e os homens se apegam a elas como quem se apega a tudo o que tem

e isso não deixa de ser um pouco verdade.