terça-feira, 3 de junho de 2014

Pro amor não solar



Quem me conhece sabe que eu adoro fazer doces: biscoitos amanteigados, bolos, brownie, petit gateau, torta de limão, brigadeiro e tudo mais que temos direito. Hoje, eu tava fazendo um brownie de tarde e me distraindo com isso para deixar o estudo pra prova de lado, pros 47 do segundo tempo, comme toujours. Pra quem gosta, não tem tanto mistério, mas é claro que é preciso tomar algumas precauções pro seu doce sair como o desejado. Com paciência e afeto - e, de quebra, uma receita legal - sai sempre uma delícia. Dá errado quando a gente tá com pressa, tá impaciente ou sem vontade, negligente... Prestando atenção nas medidas, mexendo bem e, se possível, peneirando tudo que está em pó (farinha, açucar, chocolate, etc) e separando a gema da clara pra clara em neve coroar a fofura da massa, o brownie fica uma delícia, pode acreditar. Ah! Mais uma coisa importante! Claro que não pode esquecer de não abrir o forno nos primeiros 20 minutos, né? Senão o brownie ou bolo podem solar e ir pro beleléu. 

A tempo, para tranquilizá-los, já vou dizendo que não virei blogueira de receitas de cozinha, não teria paciência nem talento pra tal. Mas é que hoje, enquanto eu preparava o tal do brownie, me ocorreu que com os relacionamentos funciona mais ou menos do mesmo jeito. Vou explicar o meu ponto.

Bom, não sei bem se acontece por obra do acaso ou do destino. De que lado você está? Em qual deles você acredita? Vou te dizer que, nesse caso, pouco importa. O que eu sei é que um deles - eleja o seu preferido - cisma em juntar pessoas umas com as outras num emaranhado de risos, corpos, conversas, olhares, cheiros e aí acontece que vez ou outra essa junção simplesmente funciona. Parece até mágica. Desse encontro, um infinito de possibilidades se anuncia. É que o amor é assim, alguma coisa entre a realidade e a magia. C'est pas rationnel, mais ça marche.

E da junção dessas duas pessoas que nunca haviam sido juntadas antes nasce alguma coisa nova, e o mundo muda de cor e de forma e as pessoas envolvidas, idém, mudam junto. E a gente descobre um novo jeito de encaixar a cabeça no peito dele, de abraçar na ponta dos pés, de fechar os olhos enquanto ele beija o nosso pescoço. Um novo jeito de fazer cafuné, de enroscar os pés nos dele, de aranhar as costas, de escolher o restaurante pra ir jantar, de olhar e escutar enquanto o outro desabafa, de calar e de falar pelos cotovelos conforme a situação pedir e de tudo o mais. Uma nova forma de deixar bilhetes surpresas, de dividir a cozinha juntos, se revezando entre o preparo do almoço e os beijos de cumplicidade. Um jeito completamente novo de fazer sexo. E outro de fazer amor. Uma maneira diferente de iniciar conversas seríssimas - ou super banais. É você e um outro, e de vocês somados surge uma terceira coisa nova e mutável, conforme o movimento de um e do outro. 

É leve. E gostoso. E não é muito diferente de preparar um bolo. Pra ficar no ponto e derreter na boca, tem que caprichar no preparo, c'est ça

Pois que a gente esteja sempre dosando paciência e afeto, companheirismo e tesão, nós dois e cada um e, claro, realidade e magia, ingredientes estes tão fundamentais pro amor não solar.