quinta-feira, 31 de março de 2016

nós, sustentáveis

hoje em dia quando eu acordo
olho pro lado e vejo um travesseiro
cheio
com formatos de humores
vários
com fôlego e vida
outra

tão melhor
do que a bagunça
de um passado
com gosto de sem
sentido e cheiro de
saudade
de alguma coisa que eu nunca
nem tive
em meio a um
entrelaçar de corpos
estranhos
e mascarados

a gente desperta numa terça quarta
quinta ou domingo
qualquer ou todo dia
e ri
e se olha
e se embrulha um no outro
como quem prepara um embrulho
de presente
enfeitando-o com uma montanha 
de beijos,
carinhos mil
e votos jogados ao vento
que entram aos poucos
nos poros
do outro -
votos de um futuro
a dois,
de uma vida acompanhada
e, mais que isso,
muito bem acompanhada

votos de não nos perdemos no sem sentido
(no absurdo da vida)
já que o sentido é aquele que a gente que
cria
e o nosso tá no nós

e nem é que seja sempre fácil
às vezes chova e o céu amanhece ou anoitece
triste de cinzento
e já nem sei se os votos são sempre
descartáveis

até que quando eu vejo
meu peito toma a fala das mãos da razão
e diz por mim
votos sustentáveis
de amor,
bem coloridos,
ainda mais lindos
por serem tão à la a gente
na dor e na delícia
de sermos nós
dois
(e também um só)

sexta-feira, 18 de março de 2016

vibrando juntas

para minha amiga isa, com afeto



e aquela folgada da
angústia
chega chegando,
já se sentindo
em casa;
se instaura sem pedir licença,
bagunça tudo,
espaçosa
e vai tomando de nós nossas ilusões
fundadoras;
e sai nos jogando no vazio,
entre nada e qualquer coisa
indizível,
logo ali na esquina com o
desamparo.

e, às vezes,
em meio a tudo isso,
nada como uma voz amiga
capaz de costurar o vazio no nada
com toque, calma, tom exato
e com aquele aveludado vocal
que tem gosto de afeto
emprestando uma moldura para essa falta
de sentido
e coreografando
os nossos fracassos.

e aí, como que num
instante,
a gente entende
que na dança da vida
não é só o ballet clássico que tem vez;
e por vezes as
quedas
fazem até passos mais graciosos
e definitivamente mais francos

para isso, basta ver com o tato
e mergulhar junto.
afinal, somos todos vibráteis.