quarta-feira, 30 de março de 2011

café sem leite

abro os olhos e todas as palavras maldosas que havíamos dito na noite passada vêm à minha mente em dose única, tudo de uma vez... ai, que dor de cabeça, que cansaço de brigar, que preguiça de continuar com essa discussão.. discussão que eu e você conhecemos muito bem... e sabemos que não dará em lugar algum!

me levanto e ponho a mesa,
faço café,
esquento os pães,
me recolho,
sento na poltrona e,
antes de dar a primeira mordida no pão,
recheado de requeijão,
você chega

ao contrário do que eu pensava,
nada disse

fez como eu,
sentou-se
mudo

olhou rapidamente em meus olhos
e me deu um sorriso forçado
deixando transparecer
tudo o que havia se perdido entre nós

me subiu uma vontade de chorar,
mas permaneci apática

- café?
- sim, por favor

milhares de coisas se passando pela minha cabeça...

- leite?
- não, obrigado

e o medo daquele ser o nosso último café da manhã juntos me dominava...

- pode me passar a manteiga?
- claro

acho que, sem pensar,
já destruímos o que tínhamos
com coisa tão boba...
com palavras que nunca deveriam ter sido ditas,
com simples falta de cuidado..

- muito bom o café, obrigado
- não foi nada..

que pena,
o brilho nos nossos olhos se foram

- bom dia pra você!
- bom trabalho

você me dá um beijo na testa e sai,
sai por aquela porta para nunca mais voltar..

nossa novela mexicana

nossos pés enroscados,
seu abraço gostoso,
ouço algumas palavras
ditas no pé de meu ouvido
que vêm seguidas de uma mordida lenta, vagarosa,
mas que me esquenta por inteira...

meu corpo combina com seu jeito e vice-e-versa
suas inseguranças me atraem
inseguranças que nem sei de onde vêm,
que nem entendo...

se você soubesse que você
veste o tamanho das minhas vontades,
segue o meu manual de instruções,
e é na medida perfeita para mim,
ia fazer como você faz?,
ia jogar os lençois?

olha, heim,
depois você vai sentir minha falta....
e eu vou seguir o meu caminho,
a milhas e milhas de distância,
é agora ou nunca,
me prende ou me larga,
me deixa!!!

não aguento mais essa novela,
num dia agimos como namorados,
fazemos confissões,
nos apresentamos a amigos próximos,
jantamos com sua família...
no outro não somos nada
e você sequer lembra que eu existo...

olha,
só faz uma coisa,
lembre-se de mim ocasionalmente, tá?
e daqui a uns meses
quando eu estiver por aí
viajando com documento, mas sem lenço
(o lenço já foi jogado, já foi pisoteado, já foi esquecido)
sem preocupações,
sem a quem dar satisfações,
vou te mandar um e-mail
- como o prometido -
te atualizando, te contando das minhas novidades
e você vai sentir falta de enroscar o seu pé em alguém...
de além rindo de suas piadas,
de seus pais aprovando uma das garotas que você leva pra casa!

mais c'est bien....
boa sorte para mim,
boa sorte pra você!

agora sou eu que me despeço dos nossos pés enroscados,
das nossas almas entrelaçadas,
e me liberto de você!

quinta-feira, 24 de março de 2011

Nosso lar

Vô querido, aquela casa abriga tantas lembranças, tantas recordações de nossa família.. Aquelas paredes seguraram tantas fotos nossas: de nascimentos, casamentos, aniversários.. Enfim, todos ele, bons momentos!

Quando vou visitá-la, me dá um aperto! Como não te procurar? Como não te encontrar e aceitar isso numa boa? Como não recordar? E mais: como não remoer?

Nunca mais pisei naquele piso da mesma forma. Antes, por vezes, o barulho de meus pés nele já entregava a alegria que eu sentia de chegar na sua casa. Não só porque você estava lá, ás vezes você nem estava... A questão é que depois de sua morte, não há vida verdadeira lá! A ansiedade que eu sentia, vontade de chegar logo, falar com todo mundo, rir, ganhar abraços apertados, sorrisos gostosos, estar com a minha querida família, não existe mais. Não do jeito que já foi um dia.

Acho que isso aconteceu com todos nós, nos fechamos um pouco... Nos amamos muito, mas há um quê de desconforto desde que você se foi... Falta uma peça do quebra-cabeça, falta você!

Um dia nos encontraremos, né vô? Só queria que agora você pudesse ler essas palavras ou, ao menos, saber do que eu sinto, saber das saudades que você deixou, saber da falta que você nos faz, mesmo quando tudo parece bem... Falta um pouco de vida, sabe? Fica faltando alguém grosso e arrogante por fora, mas que, no fundo, é frágil e muito amável...

segunda-feira, 14 de março de 2011

Trégua?! Trêve?!

você some,
tira uns dias de folga de mim...
sem aviso prévio,
sem motivo algum,
simplesmente acaba comigo!

sua filosofia "morde assopra"
ainda vai me enlouquecer, heim?

eu sei que você me quer...
mas sua insegurança,
seu medo de se entregar,
sua confiança nesse modelo doido de relacionamento:
nossos piores inimigos!

querendo me enganar,
procuro em outras bocas o seu beijo,
procuro em jantares
avistar no cara que está à minha frente
o seu sorriso,
ouvir as suas histórias!

assim como gosto de inventar amores,
me erro quando estou amando,
tento a todo custo não me entregar,
não me perder...

no fundo,
tudo que eu reclamo de você,
faço igual!
nós,
seres humanos,
somos muito tolos, não?

proponho, portanto,
um trato!
que tal,
juntos,
abaixarmos a guarda?
que tal,
simultaneamente,
deixarmos a mordida para lá?
viva o assopro!
viva o abraço!
viva o beijo!

me rendo!
mas só se você se render...

eu sei que você não esperava por isso...
eu, idém!
mas já que calhou de nos apaixonarmos,
c'est la vie!
laissez-vous tomber amoureux avec moi!!!
laissez-moi tomber amoureuse avec toi...
m'aimes!!!
baise-moi!
bisous,
bises,
baisers,
m'embrasses!!

quem sabe em francês,
te convenço?
la langue de l'amour,
capaz de resolver todos os problemas!

s'il vous plaît,
est-ce que vous pourriez être mon amant, mon amour?
merci,
já era hora!!!

Maria Clara

que vontade de te pôr no colo
e te mimar como eu faria com a filha que eu nunca tive

que vontade de,
por um segundo,
tomar todas as suas dores pra mim!

que vontade de te poupar, querida!
que vontade de te ajudar...

mas quer saber?
embora tenha sido tudo tão difícil ultimamente,
principalmente para você,
mas também para todos nós,
de alguma maneira a situação me alegra
e sei que vai ficar tudo bem...
apesar do meu coração apertar, apertar, apertar... e ele já está miudinho!!

se pudéssemos controlar as idiotices que os outros fazem, né?
coitados, são tolos!
não ligue, querida... são meros cretinos, ignorantes!

no fim,
ele acabará sozinho...
fez por onde, né?
quase implorou por isso!

e nós não, querida
nós não, amiga...
depois dessa, não nos separamos nunca mais!

pena não poder tirar toda a sua dor,
angústia,
insegurança,
seu medo...
só por alguns minutos!
só pra você respirar....

sinto muito por tudo, querida..

você, tão novinha,
era como uma irmã mais nova para mim
quando éramos crianças

e, hoje,
tão madura...
em instantes,
amadureceu anos e anos

por isso me alegro,
meu coração se enche de orgulho de você!
quanta garra,
quanta força!

estou com você nessa e não te largo...
pode confiar,
pode se apoiar

deita sua cabeça no meu ombro um pouco, querida
respira,
chora,
desabafa!

tudo vai ficar bem,
descanse,
deixe os problemas pra lá um pouco,
pensemos nisso outro dia,
pensamos nisso no amanhã,
vamos reservar o hoje para descansarmos a alma!

sexta-feira, 11 de março de 2011

Querido ex

é estranho te beijar assim depois de tanto tempo...
alguma coisa se perdeu entre a gente,
se perdeu e não volta mais

quem sabe não tivéssemos esperado tanto, né?
tantos anos...

eu mudei tanto,
cresci,
amadureci,
sou uma outra mulher...

você também mudou
e,
apesar do outro você ter me feito sofrer muito,
não gosto de você estar diferente...
não gosto de não te conhecer...
não gosto de não termos assuntos em comum...

não sei se eu queria que fosse diferente
não sei o que eu esperava da gente

mas assim...
desse jeito,
nada ardente
nada envolvente...
assim não dá

o engraçado
é que não te vejo confortável,
assim como não fico confortável
por que,
então,
quer voltar?

acho que esse verbo nem cabe
aqui na nossa situação

é impossível voltar...
aquelas pessoas que namoraram
que se amaram tanto
não existem mais!
não somos mais nós!!!

quando conversamos,
ás vezes
vejo alguns flashs do namorado que você foi,
algumas caras e bocas conhecidas,
algumas respostas prontas que não me são estranhas..

nossos interesses nos dividem,
nossos corpos não se sentem mais atraídos como antes...
e, ainda assim,
você me diz "eu te amo"
e a única coisa que eu consigo responder
é "eu também"

não, eu não te amo!
não sei porque disse isso!
amo nossas lembranças,
amo sua pessoa,
sua família,
nosso passado,
o carinho que ficou...

mas não amo você,
não no sentido romântico!
e você também não me ama...
por que jogamos essas palavras ao vento?

parece que achamos que o outro merece ouvir
por tudo o que passamos e fomos

mas não, querido,
já foi, já passou...

você não percebe?
agora,
apesar de morarmos na mesma cidade,
estamos a milhas e milhas de distância!

Mistério

- Desvendei o mistério há pouco
- Que mistério?
- A impressão de que fazem vidas que te amo!

Passeando pelas minhas lembranças,
Não pude evitar de lembrar de todas as vezes que fantasiei um amor...

Quem ama imagina, cria, sonha com as coisas que ama...
E há muito tempo que imagino você!

Paixão

você...
uma das únicas pessoas
que realmente
falam a minha língua

e, meu deus,
como é articulado!

a gente já se entende
por olhares,
gestos,
beijos,
risos,
simples movimentos...

hoje vou me comunicar com você
por palavras,
amor

o que eu sinto por você
fala forte,
fala alto,
direto do coração

berra muito,
é dor,
é bom,
traz solidão

briga e acaba comigo...
mas em um piscar de olhos,
é só eu te avistar
que tudo o que dói passa
em brevíssimos instantes
mas continua falanto alto,
beijando forte
e me perseguindo!

Preguiça

Ficar com você me dá uma preguiça bo-ô-a...

Preguiça de acordar pra vida,
Preguiça de lidar com o resto do mundo,
Preguiça de olhar pra algum rosto que não seja o seu...

Ficar com você me dá uma vontade bo-ô-a...

Vontade de ficar dias abraçada a você,
perdida nos seus braços!
Vontade de sonhar eternamente com a imagem do seu sorriso,
ao mesmo tempo que escuto o som dessa sua risada gostosa!
Vontade de não acordar mais desse sonho...


E existe melhor maneira de estar acordada pra vida?

I don't think so...

No seu lugar

entrei na sua história, sabia?
esse é um dos meus males...

todas as suas dores,
físicas e psicológicas,
de repente,
eram minhas

no meio da rua,
as lágrimas me salutaram

e quase quis chorar mesmo
para que você dividisse com alguém
toda essa dor,
toda essa humilhação

a parte engraçada da história
é que você não me conhece
e dificilmente um dia ouvirá meu nome

sou apenas uma das suas espectadoras
uma das sensíveis demais, provavelmente

mas,
estranhamente,
fico feliz por sofrer por você

se eu pudesse,
faria só mais uma coisa:
te daria um abraço forte
e dividiria também os seus bons momentos..

Cilada gostosa

bonito,
me dá mais um beijo antes de ir?
fica mais uns minutinhos?

ah....
meu peito já começou a apertar

saber que a semana vai começar,
que a rotina maldita vai substituir
dias como esse,
tão doces,
tão bons!

quando estou com você parece sabe o quê?
parece que viajei!
sim, sim, que fiz um viagem...
dessas não muito longas
- até porque nunca temos muito tempo -
mas que tranquilizam,
que limpam,
que nos fazem espairecer

fico rindo à toa!

é tão bom sentir seus braços me envolvendo,
ouvir suas histórias,
contar as minhas,
sem coar,
sem medir,
sair falando,
conversando sobre tudo...
como é bom poder ser eu mesma assim!
sem medo....

sei tanto que você gosta de mim,
que tá nas minhas mãos

mas você faz um jogo duro, né?
tem um meeedo de se envolver..

e quando você viu...
quando se deu conta...
coitado!
já tava no meio dessa 'cilada'!

mas fica tranquilo,
no meio de tantos encontros ciladas,
com tanta coisa querendo que desse errado,
com tantas energias negativas vindas de não-sei-onde
(essa é a única explicação pra tantos encontros-furada!),
não adiantou,
a gente se gostou,
se curtiu

desiste dessa pose,
tira essa cara de machão,
abaixa a cabeça
e me dá mais um beijinho antes de ir, vai?

Saudade insana

essa insônia que não me deixa em paz

vem sem aviso,
parece que quer que eu fique acordada
por algum motivo

fico remoendo sentimentos,
sensações,
perdas,
faltas,
de quê?
por quê?
não entendo...

parece que minhas maiores saudades
são de coisas que eu nunca tive!

saudades de pessoas que não conheci,
saudades de palavras que não me foram ditas,
saudades de momentos que não vivenciei,
saudades de lugares que nunca conheci,
saudades de carinhos que não recebi...

saudade que não acaba mais,
que não cabe no meu peito
e que não se cala

cisma em me fazer sofrer
um sofrimento sem sentido
sofrer por coisas que não perdi
não perdi porque simplesmente nunca tive!

saudade insana,
será que hoje você me dá um sossego?
pode ser?
amanhã nos revemos!

Um estranho misterioso

andando rápido entre as ruas,
reparei em você

esperando o ônibus,
de terno e gravata,
misterioso,
apoiado no poste,
com uma barba mal feita,
charmoso,
fumando um cigarro

engraçado,
eu não gosto de cigarros!
pra ser sincera,
os detesto

mas não sei,
algo inocente naquela sua tragada
me hipnotizou

fiquei parada,
nem pensei em quão estúpida aquela cena estava sendo

parei e fiquei te fitando

quase quis esperar pra ver qual ônibus você iria pegar
e criar na minha cabeça toda a história da sua vida

onde mora,
quantos anos,
tem filhos? não, filhos não têm
mas é fumante

por que será que começou a fumar?
e quando?

ah, tantas coisas que eu podia imaginar,
que eu podia inventar...

acordei da distração e segui andando
olhando pra trás de relance
uma vez ou outra

numa dessas vezes,
você estava me encarando
e sorrindo
- que sorriso lindo! -
como quem lesse meus pensamentos

e se você tivesse vindo a meu encontro?
e se eu tivesse dado meia-volta?

não digo que daí sairia uma bela história de amor
isso seria clichê demais!
e essa nem foi a minha vontade ao te observar,
ao te imaginar,
te inventar,
ao te desejar

queria uma aventura com você!
tô precisando tanto me perder..

talvez um 'amor' de verão
já fora de época?

idéia interessante..

engraçado,
a imagem que criei de você
entre os lençois
tragando um cigarro
não me sai da cabeça

o que isso deve querer dizer?
estranho...

ah, meu caro,
da próxima vez
você bem que podia
me chamar de volta
ou ir ao meu encontro

uma aventura
de vez em quando
não faz mal a ninguém

Depois do carnaval...

aos poucos,
o carnaval se despede

a velocidade da cidade diminui,
os comércios voltam ao normal

as caras viram rostos de novo,
sai a maquiagem,
sai a tinta,
sai a fantasia,
sai a alegria escancarada

o ano,
por sua vez,
pensa em começar

e os foliões?
ah, os foliões!
estes começam a contagem regressiva
para o próximo ano,
para o próximo carnaval,
para a próxima festa de serpentinas e confetes!

quarta-feira, 2 de março de 2011

Alguma coisa em seu olhar

babaca,
quer saber?
cansei
cansei de atravessar a ponte

tanto a ponte física
quanto a dos meus limites

passei do ponto por você

você não percebe? não vê?

cara, otário,
você tá prestes a me perder

por que você não me leva a sério?
esse seu sorrisinho não vai resolver tudo pra sempre

você me cansa,
me irrita,
me machuca
e me fascina

não quero mais assim...
quero você por inteiro

mas me derreto,
sem querer...

você me olha assim
e te dou uma outra chance...

isso tudo porque,
de algum jeito,
não sei por que razão,
esse olhar me diz tanto,
te conheço tão bem através dele

e assim...
ele me faz apostar na gente
me faz percorrer novamente a ponte
pra te ver
me faz atravessar novamente a ponte
que separa a minha razão
- normalmente a única a quem recorro -
de minha emoção,
de meu coração,
da minha versão quando se trata de você