sábado, 27 de setembro de 2014

Rotina


Ela sempre dorme na mesma posição: de bruços, quase sempre só de calcinha. Quase todas as noites ela tenta dormir abraçada a ele, seja com ele por cima, seja com ela por cima, seja com um dos dois por trás fazendo conchinha. No entanto, as tentativas são em vão, simplesmente inúteis. Quando percebe que ele já está caindo no sono, prefere desatar os braços e pernas logo para evitar ter que acordá-lo em pleno sono profundo. Quanto antes, melhor. Então, deita de bruços, se ajeita o mais confortavelmente possível no travesseiro e fecha os olhos, esperando o sono chegar. Por vezes, atrelaça os pés nos dele para lembrar que ele está ali ao lado e que, na manhã seguinte, não terá ido a lugar nenhum.

De manhã, a despeito de todo o esforço que ele faz para não acordá-la, ela acorda. Além de ter o sono leve, percebe a sua movimentação e não quer deixar de dar um beijo de bom dia antes dele ir pro trabalho. De vez em quando, aproveita para tentar seduzí-lo a ficar alguns minutinhos a mais na cama com o carinho nas costas e o cafuné que ele tanto gosta. Na maioria dos dias, consegue se levantar e vai até o quintal, abre a geladeira, pega o leite e vai até a cozinha, religiosamente, para preparar o toddy dele e garantir que ele não vá trabalhar de jejum. Algumas vezes, prepara até um sanduichinho. Já em outras, se dá ao luxo de escutar o conselho carinhoso dele, ao pé do ouvido, de continuar dormindo com tranquilidade. Nessas, ela sorri quase sem conseguir abrir os olhos, e solta o "bundinha", já habitual dos dois, um bom dia matinal leve e divertido.

Como que numa rotina maçante e deliciosa, ele se veste, se despede da mulher e companheira com quem divide a cama, a casa e a vida inteira e vai trabalhar, mais um dia.

Deixa a casa sem vida para ela por algumas horas. Quando ela desperta de vez, vai até a sala, se deita um pouco com o seu gato felino que divide o teto com o casal e fica alguns bons minutos assim. Em seguida, se arruma, faz os seus afazeres matinais do dia e vai para o trabalho.

Chegada a noite, ele a busca também religiosamente no trabalho que fica a poucas quadras de casa, os dois voltam de mãos dadas contando um ao outro dos grandes pequenos acontecimentos do dia, ele abre o portão do prédio, ela entra, ele abre a porta do meio, ela entra e vai caminhando pelo corredor, ás vezes animada, ás vezes nem tanto e, então, ele abre a portinha da casa dos dois, os dois entram e o apê volta a ter vida. Cada vez mais.