quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

pés emancipados

eu no salão,
no meu lugar,
entre uma cerveja e outra
um riso e outro
conversando com quem pela frente esbarrar
- afinal, quem gosta de samba,
mau sujeito não é! -

sorrindo para a banda a tocar
no palco
em minha frente

sorrindo e
simplesmente
a amando

por ela estar ali
fazendo eu me encontrar
no meio daquelas notas
com minha saia longa
e rodada
com meu cabelo meio preso
ou solto
- tanto faz -

tudo o que importa é o meu rodopiar

e mal quero saber se está bonito
ou feio
ou se agrada os olhos de quem vê,
uma vez que agrada o meu corpo
uma vez que meu sangue
está circulando tão bem

então
de repente,
meus pés são emancipados

antes da hora, independentes
sozinhos no salão
já não os controlo
saem dançando
se mexendo
- dois pra lá,
dois pra cá -
e eu vou junto
logo atrás

mãos na cintura
suor gostoso no pescoço
e busto

prendo o cabelo
e ele cai
faço que prendo com as mãos
- sem prender,
apenas segurando -
seduzindo você ou qualquer outro
apenas por seduzir
por brincar

porque hoje
ainda que fora de época
é carnaval

você vem
brinca com seu chapéu invisível
samba com um meio sorriso no rosto

pára, me observa
e me vê te conquistar
por hoje, pela semana, pelo mês
- nada disso importa -
tudo o que existe agora
sou eu e você
e esse salão
essa música gostosa
esses nossos corpos emancipados
sobre os quais nossas mentes
não tem mais poder
- e nem queremos que tenham! -

como é gostoso sambar
com você
juntinho

como é o seu nome mesmo?

e pra que falar?
nossos corpos rebeldes
dizem melhor
dizem por nós
quanto temos em comum

e você que está aí
a pensar
que por enquanto
eu e esse rapaz
só temos em comum o samba
já te adianto:
isso não é coisa pouca!

é com ele que vou dançar
até cair no chão
até ser expulsa do salão

simplesmente porque
meu corpo emancipado impede
que um desfecho diferente
ocorra

Enlouquecidamente racional

Durante minha sessão diária de auto-crítica de hoje, percebi como somos fáceis para algumas pessoas e difíceis para outras. Vou me explicar melhor para ver se me faço entender: ás vezes, facilitamos a convivência, a dança, a conquista, a amizade, os finalmentes e mais o que puder ser facilitado pra uma certa pessoa; outras vezes, dificultamos, encontramos desculpas, nos fazemos indisponíveis, criamos problemas no meio do caminho, traçamos labirintos e tudo o mais que possa embarreirar um amor, uma amizade, uma aproximação.. Por quê?

Tem gente que tem tanto pra nos dar, que quer tanto nos fazer feliz, nos ajudar e.... Não queremos! Simples assim! O cara pode ser bonito, gostar de você, saber cozinhar, te respeitar, te surpreender e... Não! Eu não quero! Crio problemas, invento quebra-molas, sofrimentos, impecilhos... Simplesmente porque ele não sabe dançar ou porque ele não me dá o espaço que eu quero ter! E acontece que instantes depois eu abaixo a minha guarda para um dançarinho tão ruim quanto o primeiro, que não sai do meu pé e com outras mil questões insuportáveis, mas que suporto, sei lá porquê (talvez seja a lua de hoje ou o que eu comi no café da manhã que me fez ser tão compreensiva assim..)! Qual é o nosso problema, afinal? (Digo "nosso" porque conheço várias amigas e amigos com comportamento semelhante)..

Fugindo da esfera do amor (que sempre é mais complicada - ou pelo menos parece ser, já que tão exaltada e comentada), falemos de amizade, por exemplo. Com esta, acontece a mesma coisa. Ás vezes, temos aquele amigo-perfeito (nos anima para sair quando necessário, nos abre os olhos quando precisamos, nos doa o ombro para chorar, nos empurra pra frente profissionalmente, nos apresenta os melhores caras (ou garotas, dependendo do caso) e, não sabemos porque, largamos tudo de mão quando necessário não por ele, mas por aquele nosso amigo furada, que julgamos depender de nós, já que devemos ser um dos únicos seres humanos a suportá-los, tamanha chatice!

Por que isso, né? Amarrar quilos e quilos de chumbo naquilo que está leve e suportar o peso, prejudicando nossa coluna e bem-estar com o que nos pesa?

Seria tudo tão fácil se amássemos quem nos amasse da mesma forma, se retribuíssemos beijos com beijos, sorrisos com sorrisos, abraços com abraços...

Seria tudo tão mais fácil e tão mais chato!!!

A verdade é que não gostamos ou temos que gostar dos outros pelo que eles nos fazem, gostamos por uma série de invariáveis que, assim como o funcionamento da nossa cabeça, não tem cabimento algum!

Quem disse que todo beijo tem que ser retribuido? Quem disse que todo esforço tem que ser recompensado? Quem disse que todo amor tem que ser correspondido? Quem disse que sexo tem que levar aos orgarmos de ambos os seres envolvidos nesse jogo de corpos, sedução, entrega?

Gostamos pela química demais, pelo riso descompromissado, pela falta de interesse uma vez ou outra, pelo dente um pouco torto que, aos nossos olhos, é puro charme.. pelas imperfeições que, moldadas à nós, constituem amores imperfeitamente perfeitos, amizades que pela diferença e maluquice, nos completam... Relacionamentos incongruentemente congruentes, assimetricamente simétricos, enlouquecidamente racionais...

... E essa é a graça!