segunda-feira, 6 de novembro de 2017

Por uma flor; por um amor



Te amar é plantar flor em pleno oceano. Do fundo à superfície, vou e volto. Nado, pulo, corro, prendo o ar. Em água, danço; desafio todas as leis que conheci até então - tanto aquelas que me contaram, quanto as que eu mesma criei. Busco um equilíbrio, um tino, um porto, um eixo - mesmo sabendo que amar, muitas vezes, é aceitar ser sem eixo e abraçar a beleza do fundo do mar.

Mas o fundo do mar assusta. Não foram à toa as lendas sobre os seres mitológicos diversos que habitariam esse espaço líquido do qual falamos. Isso fora as criaturas medonhas conhecidas e desconhecidas que de fato vivem nas profundezas. Por vezes, o medo me atormenta, pois me sei pequena diante de oceanos e e os conheço como repletos de perigos e de mistérios.

Eles são imprevisíveis e suas profundezas não tocam em terra firme, estão deveras distantes do concreto. São aquáticas, fluidas, escuras e geladas, embora se mantenham cheias de consistência, pois sabemos que amanhã os oceanos ainda estarão aí erguidos de gotas d'água do mar enganchadas umas nas umas, tocando a terra e o ar, em diálogo com tudo e todos. Superfícies líquidas entre sólido e gás. Água que evapora e se transmuta em chuva, num ciclo vital.  O lugar da troca por excelência, um estado de movimento que se vê.

Como as pétalas do amor se mantém vivas e ficam cada vez mais lindas em meio a ondas e tormentas naturais do oceano, eu não sei. Só sei que o fazem: simultaneamente, se mantém e se transformam. Se edificam aquaticamente.

Com nossos corpos, construímos histórias aquáticas. Dispensamos o firme, mas sabemos da consistência da água. Ela nos relaxa, vitaliza e libera. A água não prende, ela banha e salva. So does our love.

Nós duas, pequenas esponjas que se alimentam pelos poros infinitos típicos daqueles que se abrem para o amor, absorvemos e retemos o que conseguimos desse amor oceânico. Não nos desfarelamos nele, virando migalhas ou até mesmo pó; nós nos mantemos esponjas, mas é quando nos banhamos do oceano que ganhamos sentido. O amor vem, então, nos dar sentido e preenchimento a partir de um irracional. Quem disse que flores não resistem a oceanos?

No final das contas, amar é sempre plantar flores raras e terrestres com pinceladas de presenças e ausências, mas sempre bem longe da terra. É preciso sair do quintal de casa e mergulhar nas profundezas do encontro. Afinal, é só com o outro que fazemos lar; o lar vem com o laço. Ao nos depararmos com as profundezas portadoras de mistérios insolúveis, é preciso ter coragem para ver e apreender que, para além do risco, nelas habitam o amor - ou, melhor dizendo, o potencial criador. Os amantes nadam, piruetam e veem na aposta mais do que pura adrenalina. A aposta é um encontro entre dois num labirinto aquático sem fim. Do encontro, nascem e crescem flores terrestres fora de seu habitat natural, únicas e irrepetíveis. Penso alto e meus dedos acabam escrevendo: "Pobres dos covardes, aqueles que não amam."

Então, a imagem de seus olhinhos brilhantes dirigidos a mim não me sai da cabeça. Me delicio buscando fotografias mentais e sensórias e um arrepio me liga inteira a você, à distância.

Sigo plantando enquanto nado e mergulho e o oceano já me é muito mais irresistível e apaixonante do que amedrontador e misterioso.

Impossível eu me cansar do nosso oceano. O oceano é vasto e surpreendente e eu o sinto por todos os lados, formas e sabores. E o amor só cresce, infinito.

Esponjemo-nos mais e mais que o amor há de continuar vindo, banhando-nos.

Nenhum comentário:

Postar um comentário