sábado, 21 de setembro de 2013

Carta para o meu pai




Na última noite, sonhei com você e acho que não foi à toa. Não que este tenha sido o único sonho que eu tive com você nesses últimos meses (tive alguns com o Bê também), mas dessa vez o meu sonho veio como força de impulso para que eu te escrevesse.

Não sei direito o que tem acontecido ultimamente e, me perdendo pelas minhas análises de tudo, acho que você muito menos. Mas, como tudo na vida, é perigoso a gente deixar coisas que pinicam a gente na nossa vida durarem por tempo demais, pois parece que fica cada vez mais difícil reverter a situação que ás vezes a gente nem sabe como começou. Na dúvida, melhor fazermos aquilo que nos cabe. Na dúvida, melhor dizermos o que sentimos.

Não por acaso, sonhei um sonho muito tranquilizante e perturbador ao mesmo tempo. No meu sonho, eu não tinha escrito esse e-mail e, por motivos que não haviam sido explicados, eu e você havíamos ficado muitos anos distantes. Muita coisa aconteceu, eu havia mudado de profissão, de cidade (pelo que tudo indicava, eu morava em São Paulo) e me casado. Você tinha conseguido abrir o seu negócio, o Bê tava enorme e vocês tinham um cachorro labrador. Parece que por muitos anos nós havíamos nos mantido distantes, sempre sabendo por alto e por terceiros notícias sobre o outro. Até que, lá pelos meus 40 e poucos anos, começamos a nos reaproximar com uns empurrãozinhos do Bê, que já estava com os seus vinte e poucos anos. Decidi, então, organizar e comprar uma viagem pra nós dois. Não foi nada muito sofisticado não, era um lugar tranquilo de praia no Brasil, mas foi a escolha ideal. Não sei exatamente que praia e que cidade, mas possivelmente na Região dos Lagos. Tirei, então, 1 semana do trabalho e do marido e te roubei por essa mesma semana dos seus tantos afazeres. Você tinha ficado surpreso, mas topou.

E, nessa semana, tivemos algumas boas conversas, demos outras boas risadas, comemos bolo de cenoura e ficamos os 2 lendo, um em cada rede diferente entre as tantas que estavam presas nas árvores que ficavam de frente pra praia. Cada um, um livro diferente. Separados, cada um ocupado com a sua própria leitura e mais conectados do que nunca, finalmente.

A questão é que a gente nem lembrava por que motivo não havíamos feito isso mais vezes. Não era por falta de vontade, por nenhuma das partes. Conversamos e fizemos o outro entender os nossos diferentes pontos de vista, que, a esse ponto, já datavam de um par de longuíssimas dezenas de anos.

Fica difícil explicar com palavras tudo que o sonho me disse. As cores dele eram lindas, muito vivas. E muita coisa não tinha mudado nada, apesar dos trajes já tão diferentes com os quais as nossas vidas se vestiam.

O que realmente importa é que ele me fez vir aqui pelo medo de ele se tornar realidade. Ao mesmo tempo que ele foi um sonho bom, agradabilíssimo, e que me deu vontade de fazer uma viagem dessas com você um dia - de preferência, não só uma vez -, ele foi muito perturbador porque me mostrou que por inseguranças, por pensar demais, por mágoas pequenas que vamos transformando em buracos enormes ou simplesmente por simples falta de cuidado, daqui a pouco a gente se afasta muito mais do que planejamos ou queremos de pessoas importantes pra nós.

Pois ele veio em tempo. Amanhã é seu aniversário e eu queria muito estar com você, levando um bolinho, um presente qualquer, indo no posto comprar a coca pro almoço ou apenas ajudando a colocar a mesa. Queria estar com você pra te dar um abraço gostoso, pra ver pela milésima vez os seus olhos enchendo d'água por estar com a família reunida (uma das coisas que não cansa nunca em você) ou pra ouvir as suas piadas bobas, já contadas centenas de vezes também. Queria estar com você pra acompanhar de perto os seus fios de cabelo de menos e sabedoria de mais - sem esquecer de cada marquinha que aparece no seu rosto e nas suas mãos e que só te deixam mais bonito.

Sinto muito pela minha falta. Deve mesmo ser difícil demais ter filhos e deixá-los ir pra longe da gente -  quem sabe daqui a 20 anos eu entenderei tudo isso melhor, do outro lado da mesa.

Eu espero que você esteja bem e quero que você saiba que eu não digo isso da boca pra fora ou porque estamos oficialmente no seu mês (dia dos pais e aniversário). Eu espero isso não só porque é agosto, mas porque não há um só dia em que eu não pense em você (aqui ou no Brasil, isso é o de menos).

Obrigada por ter me ajudado a me tornar a pessoa que eu sou.

Sinto saudades demais.

Amo você.

Um beijo grande.

2 comentários:

  1. You wrote/published so much yesterday it is going to take me a while to comment on everything!!!
    About this letter/poem, it is hard to know what to write here. In a way the two ways I said yesterday sum it up, what else can I say. You are addressing something so personal, so profoundly personal, it is part of your being. But you take your own relationship, pain, fears, love, feelings, write them down, expose them, but also in a way exorcising your demons, fears, worries, - which helps you, but it can/will also help others, cause of your talent to universalize your feelings.. universalize them, whatever they are, happy, sad, fears, desires, worries, or demons, but make them beautiful....
    Keep writing my friend, forever

    ResponderExcluir