quarta-feira, 18 de outubro de 2017

duro

parece que foi tudo um filme
um filme bom, com drama e cores
que se passava em alguma cidade chuvosa
talvez lyon
no inverno

por vezes parecia ser um filme longo,
por outras soava curto;
pairava no ar a grande dúvida:
eles se conhecem como jamais ninguém os conheceu
ou não se conhecem at all?
os 2 extremos oscilavam, como que numa dança
nem os extremos decidiam-se se queriam sê-lo e impor-se sozinhos
subtraindo o outro;
nem eles sabiam se gostavam mais de si ou de seu oposto

tivemos risos
sexo palavras cheias pulsantes e mágicas
abraços palco malas voos
olhares mãos cheiros
ideias ouvidos força
cafuné e até
flocos
de
certeza

eu quis tanto,
amei tanto,
e em certo ponto
eu também queria a paz
que nem você me ensinou

(...)

mas eu não tinha paz
nem sei se eu conheço isso
visitei a sensação por vezes,
fugazmente

me parece até com uma leveza diante da morte,
da falta de movimento,
da rotina e do tédio que sitia as almas

não precisava bater assim
como batia pra mim,
mas paz em solidão nem sempre é paz
(às vezes a gente se engana)

a gente esquece que paz é a nossa paz
e que ela pode vir em qualquer canto:
meio a um show,
uma maratona,
uma leitura
ou uma trepada

- ah, claro, e também ficando em casa
dormindinho
assistindo netflix
desconectados das relações
na famosa preguiça

é que paz pode ser menos aquilo que você me ensinou
de não ser incomodado
(ou tocado?)
e mais o feeling de estar onde se quer;

naquelas horas que,
dada a conexão,
a gente sabe que não há mais nada
nenhum outro lugar amável naquele momento
nenhuma outra pessoa bonita e interessante nos instantes do encontro
nenhum outro ângulo tão aveludado
nenhum beijo tão puro
nenhuma conversa tão gostosa

é que
se a gente não tivesse ali
nada daquilo teria se dado
seria nada, vácuo

e, após amarmos,
é duro pensar na falta do que se ama
na sua não existência

põe duro nisso,
não é mesmo?

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