quinta-feira, 17 de maio de 2012

"Amor?"

Cansada de brigas, desligo o celular porque hoje quero tentar dormir tranquila. Como o sono não vem fácil assim, ligo a TV e, por acaso - ou não -, no GNT ta passando aquele documentário chamado "Amor?". Decidi assistir.

Não tinha sido a primeira vez que o assisti, apesar de sempre pegar o filme no meio e ir descobrindo uma nova parte dele toda vez que tá passando pela tv. Contudo, dessa vez foi diferente, a coincidência do documentário estar passando naquela hora, depois de tanto desgate, me fez pensar e, mais do que isso, analisar o meu próprio relacionamento amoroso.

Para quem não sabe, o documentário fala sobre o limite entre o amor e a violência, tratando de relatos reais nos quais a face violenta da paixão foi se mostrando nas relações amorosas em questão. Não se trata se um documentário sobre violência doméstica simplesmente, tendo por objetivo a análise dessa fronteira: afinal, onde acaba a paixão e onde começa a violência?

A princípio, nos deparar com essas histórias de ciúmes, culpa, dor e poder excessivos em meio a relacionamentos de pessoas comuns, de classe média, que aparentemente poderiam ser nossos pais, irmãos, vizinhos, amigos, acaba nos assustando um pouco. Normalmente, não atentamos para o fato de que na nossa casa ou, de repente, no nosso prédio, diariamente estão sendo escritas histórias sobre violência moral, psicológica e física nos relacionamentos amorosos. A maneira que essas pessoas deixam que tais sentimentos doentios se externalizem em violência de todo o tipo parece estranha a nós, nos assusta. Como é possível perder a cabeça dessa forma? Aí que se encaixam, inclusive, os crimes passionais, frutos desse momento de desespero que leva à erupção da violência.

Como explicado por João Jardim, diretor do filme, o documentário não é simplesmente sobre a patologia em questão. O que o interessou foi o lado do amor que seria o peso que, contraposto ao da violência quase diária, ganharia a batalha a cada vez que a vítima (e será que existe vítima strictu sensu numa situação dessas?) analisava se deveria ou não abandonar o barco já repleto de furos - mas afinal, até quando esse baldinho de kit de praia infantil vai dar conta de tirar essa água que não para de entrar no barco? Até quando vou precisar fazer esse esforço praticamente ineficaz em prol do "amor"?  

Na minha humilde ignorância sobre o assunto, desconfio que os agressores desses referidos relacionamentos não necessariamente sejam apaixonados pelas pessoas objetos de seus ataques de fúria, de suas tentativas de anular auto estima do outro e da própria violência física, mas sim apaixonados pelo drama.

Há algumas semanas, saí para beber uma cerveja com uma sábia amiga minha e, durante a análise do comportamento aparentemente incompreensível de uma terceira, também minha amiga, ela disse que a tal menina parecia ser viciada no drama.

De fato, fazia sentido. Tanto fazia que, por ser assim, a tal menina estuda Cinema hoje em dia.

A cerveja até esquentou de tanto que conversamos, mas a conversa acabou e isso ficou na minha cabeça.

De fato, tem gente que é viciada no drama. Olha, não to falando de gente que reclama diariamente do trabalho, do namorado(a) ou do tempo - isso pode ser só mal humor, cansaço ou chatice, males do qual eu e metade do mundo também padecemos. Eu to falando de vício em drama mesmo, naquela pessoa que está sempre definhaaando, sofreeendo, amaaando de paixão e se descabelaaando por aí.

Agora vou voltar pro começo da minha história pra tentar ligar uma coisa na outra: bem, como eu disse, já havia visto o filme algumas vezes, mas dessa vez eu percebi que estava inserida numa relação violenta.

Assim como tendemos a nos assustar quando pensamos que existem relacionamentos amorosos muito violentos acontecendo agora em meios muito próximos a gente, temos dificuldade de perceber que estamos  inseridos numa situação dessas.

Quando há violência física, acredito que o tempo necessário para "a ficha cair" seja menor, até porque os outros tipos de violência são pouco tratados na nossa sociedade. Se uma amiga sua te diz que o namorado bateu nela, você e qualquer pessoa logo vão se revoltar e dizer que ela não pode aceitar isso, que precisa terminar e todo aquele discurso o qual já conhecemos bem. E se ela te contar que o namorado a insultou, a humilhou? Nem todo mundo vai dizer de cara que ela precisa sair dessa. É capaz da pessoa até tentar melhorar a situação do cara, dizendo que ele podia estar de cabeça quente pelo motivo X ou Y e que ama muito ela, por isso ás vezes acaba se comportando assim.

Apesar de pouco apresentada na nossa sociedade, a violência moral e psicológica pode provocar tantos danos quanto à física - as cicatrizes podem, inclusive, ser mais profundas, dependendo do caso. O olhar de censura e as alfinetadas do começo do relacionamento vão ficando cada vez mais frequentes e o desejo de humilhar e ofender o parceiro acaba, eventual e gradualmente, por destruir a auto estima deste que, consequentemente, se deprime e se culpa.

Decididamente, o excesso de controle, manifestações de poder, ciúmes excessivos e ameaças, entre outras coisas, não são características de um relacionamento minimamente saudável, constituindo patologia. Quando finalmente absorvermos isso, poderemos, a partir daí, repelir tais comportamentos, afastando os relacionamentos que nos agrida com tal violência de nossas vidas e, de repente, até do dia a dia de pessoas próximas, através de conselhos em meio a um desabafo de um amigo.

Resumindo, definitivamente, não é porque o cara - ou a mulher, quem disse que só o homem tende a agredir nesse sentido? - não te deu um tapa que o caso/namoro/casamento de vocês não é violento.



3 comentários:

  1. I told you earlier that I thought what you had writtem was very good. (Did you get the bbm by the way, I have a feeling my bbms are not getting to you, or else you are not way too busy...,?) I reread it now, on my own without Valentina on my lap, trying to mess with the computer, and I liked it even more. It really touched me in many ways, many many ways....
    First of all, in relation to the way you write, you really write well, amazingly well. I found myself imagining that I was reading a column in a newspaper.. yes your Portuguese is that good. You have an amazing gift for writing prose as well as poetry, you must really use that gift.
    In relation to what you said, it touched me, it stirred up so many emotions... I understand what you said. There is a confusing line between liove and hate, control, dominance and too many other negative things. Unfortunately too many peopel cross that line. I have seen it too often.
    It made be sad, I must confess, when you wrote about what you are feeling, what you have been through. I know a lot, imagined more, but I dont think I properly understood. Inpart because it is hard to convey, or to explain to anyone without them being them, soemtimes it just seems too crazy. I know you know I am always here, but I also think that it is hard for you to explain what is going on, cause words are useless, and because maybe you worry about overburdening me, or things like that... don´t worry about me, you can tell me as much (or as little) as you need. I am always here when you need.
    I am also angry with the guy. This type of situation always makes me angry, it is such a waste, so pointless. However, to say soemthng positive, the fact that you have identified this, that you know your relationship WAS abusive, is sooooo important. It means you are moving on. Of course wounds and hurts will take longer to cure, but they will heal. Ihave probably said enough.. I dont want to bore you... ha ha ha ha
    Keep beleiving in yourself, keep believing in your many wonderful talents, and don´t ever doubt that you are the amazing person you are, someone who I feel proud to be a friend of, you are one of the good people, one of the best people. So dance, sing, write, and fly..
    :-)

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  2. Gabi, you are in very good company in your analysis of love. I just came across this interview with one of the best known French philosophers of the present day (atualitie.. I know I am spelling it wrong). What he says about love/sex is interesting I think (though he loses me when he mentions Lacan ha haha). He seems interesting, though I didnt like his support of Mao, someone I really have no time for.
    Anyway, I hope things are ok with you.. that you have recovered from what you have been through. I am hoping to see more poems and writings :-)


    http://www.guardian.co.uk/culture/2012/may/18/alain-badiou-life-in-writing

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  3. Olá my friend, this is not really a comment on this poem, it is about your poetry though (and I have to admit, I feel like talking to you, and writing in your blog always makes me happy.. ha ha ha). I posted a video on your fb a while ago. I hope you like it. I posted it for a number of reasons, first it is by Leonard Cohen, whose poetry, as I have told you before, always comes to mind when I read yours. Second, I can see you in this song/poem (most of his songs are poems I think). In a way, you are Bernadette, following your dreams, doing what you believe needs to be done, doing what you feel is right, irrespective of the others, (who don´t believe in what you have seen or heard, as the song says, and also don´t always believe in you and your gifts). This is a gift, but it can also leave you lonely, and feeling like a stranger in the world... Then the things the singer says, they remind me of you as well (and even more, they remind me of me..) - we fly, we fall, we mostly fly, we mostly fall).
    The song is sad, but it is also happy in a way, redemptive.. that is at least how I read it. It is a song that helps me find belief in myself, and strength to go on, to feel less lonely as well, and also less awkward or odd... I am not the only one who feels the heavy sadness of the world, who is clumsy, who hurts for strange reasons... (I think you are too)..The end I think is particularly appropriate for you know, as you are doing your best to rebuild your heart and heal the wounds you have suffered... Many things will help you, but you must help yourself most of all, turn to that Bernadette inside you, do not forget her, or all those dreams you have told me about...
    Tonight, tonight I cannot rest
    I've got this joy inside my breast
    To think that I did not forget
    That child, that song of Bernadette
    Reading the lyrics does not do justice to the song. You have to listen to it, either this version or the original by Jennifer Warnes and leonard cohen. Close your eyes and listen....
    I hope this will help you in someway, or at least you will just listen to a great song :-) (Does any of what I am writing make sense???? I am a little worried that it doesn´t).
    Hopefully I will see new poems here soon.

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