Você me disse que se apaixonou naquela tarde que foi lá em casa pra cozinharmos juntos. Você estava comandando o fogão e eu cheguei por trás suavemente e te dei um beijinho na bochecha esquerda, denunciando o meu lado carinhoso transbordante. Mas eu duvido, acho que não foi nada disso. Não foi aí. Nesse momento, pode até ter surgido um carinho, uma vontade de cuidar tipicamente sua, mas paixão? Acho que essa teve a ver, antes de tudo, com os nossos cheiros, repletos de feromônios.
Esse tal cheiro que me faz fechar os olhos sempre que eu te abraço pra que eu possa me concentrar em sentí-lo melhor, taking my time, sem desperdício; que me faz querer ficar nesse abraço, morar nesse abraço, viver nesse abraço (e até morrer nesse abraço, por que não?) - pelo menos por mais 5 minutinhos, vai.
O despertador toca, você levanta pro trabalho, eu acordo junto e fico me espreguiçando na cama, olhando você se arrumar e torcendo para que ainda dê tempo de mais um abraço. Você olha pra mim, eu olho de volta e sorrio já prevendo que te ganhei por mais uns minutinhos, você tira os sapatos que já tinha colocado, se ajeita embaixo do edredom, coloca os seus braços em volta de mim e me aperta forte, desafiando as minhas costelas. E, nesse momento, os cheiros apoderam-se da gente de tal maneira que o abraço se transforma num bom dia um pouco mais vivaz... Você diz que quer me sentir um pouco antes do batente. Eu sorrio e mordo os lábios: Combinado. Desabotôo a sua calça, baixo o zíper, a sua calça e cueca e você, enquanto olha nos meus olhos com esses olhos azuis que me dão tremeliques no estômago, afasta a minha calcinha pro lado. É de manhã, sexo de bom dia, então nem se dá o trabalho de tirar ela fora. Me adentra com calma, me sente pedacinho por pedacinho, sem desviar o olhar. Eu aranho as suas costas e me aproprio dos seus ouvidos com gemidos.
Durante essa dança matinal, o nosso pas de deux, os cheiros se confundem, se fundem, numa mistura sem fim. Já nem sabemos mais onde acaba o meu e onde começa o seu.
Você diz que vai gozar. Assim, quase sem falar. Disse ou só pensou? Pedido ou aviso? Eu também to quase lá. E te digo, no mesmo tom. E aí que, finalmente, acontece aquele encaixe milimétrico; o disparo; o suspiro final; la petite mort. E não foi à toa que os franceses nomearam o nosso amigo orgasmo assim, não é? E quando os dois quase morrem juntos, tem coisa melhor? A ilusão de que somos um só, nem que seja apenas por alguns poucos segundos... Gozar com o outro exige cumplicidade, entrega - que nem na dança, ora pois!
Te abraço forte por um instante, respiro fundo e vou soltando aos poucos. Você tomba pro lado, olha pro teto, sincroniza a sua respiração com a minha, vira a cabeça pra mim e vira a minha com a sua mão carinhosamente pra você. A gente se olha, ri um pro outro mostrando os dentes e diz, simultaneamente: "Bom dia".
Yeah.. finally..a new poem/conto :-)
ResponderExcluirIt´s great, amazing... so personal, so open, and kind of mind blowing in a way. I love when you write this sort of stuff - not just cause they are really good, but also because I feel I can see into you.. This poem is so personal, but gentle and touching at the same time, and very brave. To open yourself so much is hard, is courageous (but produces great poetry and literature).
Keep writing my friend. Always!!!