terça-feira, 6 de novembro de 2012

(dife)lentes

hoje fui a primeira a levantar e resolvi aproveitar a raridade do episódio: deixei você na cama, dormindo todo troncho, todo bronco, espaçoso; de bruços e na diagonal. deixei você e fui saindo de mansinho, bem na ponta do pé.

eu tava planejando deixar um bilhete na geladeira com uma marca de beijo - é, daquelas bem bregas, eu sei. do batom de ontem à noite - aquele que você tanto gosta, sabe chéri?

mas, antes de sair do quarto... enquanto eu tava catando minhas roupas pelo chão - bagunça óbvia da paixão de algumas horas atrás -, vi sobre a sua escrivaninha os seus óculos charmant que eu tanto gosto. e deixei a breguice de lado e mudei de planos: coloquei seus óculos e fui me aventurar por aí.

acho que foi a ânsia de te conhecer mais que me moveu. queria ver tudo através das suas lentes; absolutamente tudo, chéri.

fui me perdendo por ruazelas; ruazelas que nunca existiram pra mim. acabei descobrindo uma nova cidade. e me apaixonando. por ela e por você. cada vez mais.

olha!!! essa simples formiga passando aqui pela calçada com as suas companheiras: ela tem cor, forma, tamanho e nitidez diversa das minhas! os montes, as praias, as pessoas... existe um mundo inteiro novo pra mim e só seu, bonito.

aí parei na esquina de uma dessas ruazelas, bem debaixo de uma árvore que denunciava que era outono. fiquei olhando as folhas caindo e e me benzendo toda. folhas benditas, benzendo o nosso amor.

comecei a fazer acrobacias na árvore, fingindo que os galhos eram um tecido acrobático e achando força de nem sei onde.

desci igual macaco - ou igual criança feliz, fique à vontade escolhendo a comparação que mais te agrada; sorriso de ponta à orelha, toda satisfeita..

era tudo tão diferente: quem de nós dois ve certo? e quem distorce? e quem se importa?

se nós dois falamos que o céu é azul e o seu azul é o meu vermelho.. quem se importa, chérie? se concordamos que noite passada tava frio e o seu frio é o meu calor, e daí?

a melhor parte do céu não continua sendo observá-lo com você entre beijo-mordidinhas? e a do frio, poder entrelaçar os pés e as almas naquele friozinho depois de um foundue esperto? e quando tá calor, não gostamos de tomar aquele banho frio no meio da tarde quando o termômetro caprichar?

o estranho pra mim é que você cura o seu calor - que você chama de frio - com foundue e amasso e o seu frio, com banho gelado no meio da tarde... quem se importa?

cada doido com a sua mania, não? cada doido com as suas cores. com suas sensações. e companhia.

me apressei em voltar pra sua casa e deixar o meu óculos em cima da sua escrivaninha pra você experimentar o meu mundo agora. topa, chéri?

Um comentário:

  1. I find this conto/poem so funny. I love the idea of you (I presume it is you) wandering around the city wearing someone else´s glasses! And climbing trees and doing acrobatics, etc! Sounds hillarious.
    More than that, you have done this several times with you contos, making a little incident, event, into something different, in this case magical, but also insighful!!! Loved it!
    Write more soon (poems and contos) :-)

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