Hoje, me lendo, percebi que sempre vaguei por vários universos bem distintos um do outro...
Só na escola, eu era amiga dos inteligentes, da galera do fundão, dos professores, dos excluídos.. Além disso, tinha a minha família, o pessoal da igreja, do vôlei, do jazz, do ballet... Depois, o pessoal da outra escola, do inglês, do francês, da dança de salão, da faculdade, da loja, os agregados... Enfim, infinitos grupos me cercavam, companhias certas e tortas, velhas e novas...
E, em cada universo desses, eu era uma Gabrielle. Em alguns, meu lado extrovertido se sobressaía mais, em outros, minha sinceridade se aflorava, em outros, minha teimosia que era a minha marca registrada. Isso sempre me fez muito bem, pude assumir um milhão de eus, eus que são a mistura de elementos meus e elementos que estão à minha volta, eus que são a minha resposta à maneira que as pessoas me tratam, ao ambiente que frequentamos, aos assuntos que conversamos.
Nessa, vou me construindo e me conhecendo, percebendo as várias facetas que eu tenho. Afinal, nós, seres humanos, não somos uma coisa ou outra, mas sim um leque de possibilidades dentro do que a nossa personalidade nos permite. Violenta, por exemplo, está fora do que a minha personalidade me permite, logo não sou violenta com nenhuma das pessoas com quem lido. Porém, posso ser mais ou menos desbocada, mais ou menos largada, mais ou menos vaidosa, mais ou menos carinhosa... Isso vai depender de com quem estou lidando, do lugar que eu estou, da ocasião que se trata. Sou feita de todos esses meus eus... Eles são pedacinhos de mim que eu vou guardando comigo, que vão me ajudando a chegar ao produto final, que sou eu: um eu que se altera a cada dia, a cada convívio com o próximo, a cada palavra, a cada lembrança nova...
Há quem diga que essa história de mudar conforme o ambiente é errado, que é coisa de quem não tem personalidade, de quem finge ser o que não é. Discordo. Isso é balela pra mim. Mudar de acordo com o ambiente é o normal e é uma arte, a arte de se adaptar e de ser mil em um. Me diz se você é o mesmo com o pessoal do seu trabalho e com os seus amigos de infância? Claro que não! Mas a questão é que as pessoas, normalmente, não se abrem a diferentes grupos, escolhendo sempre amigos com personalidades parecidas. Assim, também se comportam de maneira parecida com eles.
Atacar uma pessoa por ela ser várias ao mesmo tempo é subestimar a complexidade da mesma, pura ignorância. Chega a ser falta de auto-conhecimento, porque todos somos mil em um, mas alguns se permitem inovar mais do que outros. O importante mesmo é que o nosso comportamento depende de diversas variáveis, mas a nossa essência é a mesma em todos os grupos, sempre: com certos amigos, você pode viver falando de política e com outros, só de futebol ou de maquiagem, mas o seu olhar, o seu cheiro, o seu sorriso vão ser os mesmos em ambos!
Andamos na terra e nadamos na água, somos feitos pra isso: nos adaptar nos diferentes ambientes. E o que é melhor: andar na terra ou nadar na água? Não tem melhor, as duas coisas podem ser maravilhosas. Nadar num mar cristalino num dia de sol impecável em boa companhia pode ser um programa inesquecível, mas quem vai dizer que passear com seu amor dentre algumas lindas ruazinhas de uma cidade igualmente linda num feriado, deixando todos os problemas de lado, não pode ser um programa tão bom quanto?