a menina anda a passos largos, desafiando o vento frio que vem em sua direção.. agasalhada, cheia de malas, procura o endereço que precisa em seus bolsos. descarta a identidade, a nota fiscal do supermercado, o bilhete que continha um "eu te amo" seu e que você havia colocado no bolso dela na manhã de ontem e, enfim, encontra o endereço. já está na rua certa, só falta chegar ao número 278.
"ai, que frio!", a menina pensa... e lágrimas começam a molhar sua bela pele - não pelo frio, mas por tudo, por esses últimos dias difíceis que não deixam a doce menina em paz... 260, 264, 270, 272 e 'lar, doce lar' (ou o mais perto de um lar que essa menina pode ter agora..)
ela bate em minha porta e seu rosto já diz tudo... pedindo proteção, clamando por um ombro amigo, a doce menina só quer um abraço carinhoso, uma palavra suave, um colo quentinho...
a recebo, a conduzo até o seu quarto, entrego a ela uma coberta para que se esquente, acendo a lareira e a trago um chocolate quente. ela se apóia em mim, bebe o seu chocolate quente, entre choros, soluços e olhares de gratidão...
faço-a deitar em meu colo e a tranqüilizo.. ela me pede para que eu conte a ela uma história, do jeito que a mãe dela faria se aqui estivesse... penso em contrariar, mas antes de abrir a boca decido tentar e saio falando as primeiras coisas que me vêm à cabeça... pra falar a verdade, nem sei se a minha história fez algum sentido, nem me lembro sobre o que foi direito, só sei que a fez dormir, a tirou desse mundo real, ainda que só por algum tempo.. então, levanto sua cabeça com cuidado, me retiro, a ajeito na cama, a cubro melhor e vou me deitar..
no dia seguinte, ela me acorda com um chocolate quente e senta no canto de minha cama. fala, fala, chora, chora e, por fim, me agradece. agradeceu por eu tê-la ouvido, por tê-la recebido, por tê-la distraído e não esqueceu de agradecer pelo chocolate quente e nem pela história!
nesse ponto, eu que comecei a chorar, caí em lágrimas mesmo, igual a uma criança.. expliquei a ela que há muito tempo não tinha uma noite tão boa quanto àquela, que há muito tempo esperava ansiosamente pelo dia em que ela iria me procurar, iria se abrir comigo, iria precisar de mim de alguma forma, ainda que só para desabafar, ainda que só para aliviar seus problemas..
"sempre bom tê-la comigo", terminei dizendo.. e, em meio a muitas outras lágrimas, ela fez que sim com a cabeça e me abraçou forte, dessa vez para nunca mais soltar-me de vez...