bem quis que nos tivéssemos inteiros
sem nem piscarmos
prendendo o ar debaixo d'água
e haja fôlego para tanto,
pra sustentar pra mim mesma
que poderíamos ser
o oxigênio um do outro
faltava ar todo o tempo,
o tempo todo;
os olhos ardiam,
eu me asfixiava
mas você se dizia feliz,
em sua melhor forma e fase;
enquanto eu via só via apatia
tentei ser paciente
busquei falhas em mim
escavei cavernas interiores
fundas, escuras, densas,
proféticas
encontrei tantas sombras
me perdi nessas sombras
pensando ser eu
toda a falha do mundo
e pensando sermos nós
toda a minha raiz
pensando sermos nós
toda a minha luz
(se e é que eu tinha alguma)
nós, a lanterna que guiava essas buscas profundas
nós, o espaço seguro ?
nós, a certeza
- mas certeza de quê?, eu me perguntava
e te perguntava em sequência
você me dizia: - de tudo, do que quiseres, basta escolher e eu vou atrás
passávamos diante de vitrines de lojas
baratas ou chiques,
enormes ou pequeninas
e, ao primeiro olhar meu,
você me dizia:
- você quer, linda ? eu te dou.
mas não era isso que eu queria
não é o que eu quero
e eu nunca estive à venda
em seguida, vinha-me aquela sensação,
a de queda livre
imersa numa solidão profunda
dentro da caverna escura do meu eu
e a lanterna queimou
eu berrava, pedindo ajuda
você vinha, mas não me via
nunca me encontrou nesses labirintos macabros
nunca entendeu as minhas trevas
pensava ser drama
e usava essa palavra
pra diminuir o que eu sentia
pra calar a minha boca
eu, que olhava pra dentro
e via infinitas feridas e garras
dores e maldades
recolhia-me mais e mais
e constatava mais uma vez
ser eu todo o mal
eu brigava e me debatia
numa guerra comigo mesma
a qual eu te permitia observar
como mero expectador,
voyeur de uma cena de luxúria
feita sob medida
especialmente para você
porque partícipe cê nunca foi;
diferentemente,
cê me deixou aos leões
e acreditava salvar-me deles
(ou seja, de mim mesma)
com uma penca de notas de reais
que de reais não têm nada
são apenas ficção de poder
assim como o poder que você tinha sobre mim:
ficcional
e a ficção é coisa à beça, eu sei
tanto sei que me faço exprimir
por essas palavras
até hoje
pego os meus restos
resquícios dessa história inacabada em mim
e busco encaixar em palavras
palavras as quais eu não gosto
me são amargas
indigestas
me trazem enjôo;
enjôo e dor
quando me percebo,
minha testa está enrugada
e eu pareço ter envelhido 5, 7 anos
em apenas 1
quase uma j.k.
minha cabeça toda dói
meu corpo está desforme
e eu não me refiro à estética da coisa,
quero dizer energeticamente desforme
não conheço-me minhas funções
meus destinos foram desequilibrados demais
chega a noite e, sozinha, sinto-me uma ameba
fracassada,
uma coitada;
sinto-me triste
e duvido de todas as minhas escolhas
me dá vontade de sair porta afora
correr, gritar
arrancar as roupas, me arranhar
e ir mergulhar na praia
depois de correr a lagoa inteira
para lá chegar
e quem sabe em seguida
me afogar nas águas de um mar abalado por uma ressaca tremenda
quem sabe ?
ou então eu poderia
sair correndo
pegar os poucos putos no bolso que eu tenho
comprar uma passagem pra puta que ainda não pariu
e ir viajar, apenas com documentos e roupa do corpo,
com a puta que eu sou
e de repente parir alguma coisa em algum canto novo,
mais fértil do que a infertilidade que se apossa de mim hoje,
parir um suspiro, uma história,
um rasgão nesse roteiro de merda
insosso, contaminado
tóxico até dizer chega
que ficou essa minha vida
depois que eu me dei conta
que nem eu te tinha
e nem você me tinha
e que nenhum de nós era oxigênio pra ninguém
e que nesse tempo todo eu tava respirando por aparelhos,
toda entubada
quero arrancar essas merdas de tubos
deixar tudo pelo chão
nesse hospital todo branco que me dói a cabeça
que me cega
e se for pra sangrar, eu sangro
adoro vermelho, não vejo problemas
se for pra morrer, também
todo mundo morre
a morte é bobagem,
coisa pouca
previsível e, quando chega, indolor
c'est fini, c'est tout
a vida é quem arranca a nossa pele
e cria outra por cima
queimadura em cima de queimadura
a carne viva é estado de alerta
onde a gente sente tudo
o gosto da pedra,
o cheiro do amor
o tato da noite
o som do espaço aéreo
e avistamos a solidão
arrebatados pelas sinestesias das tonalidades várias
de vida e morte,
sentimos medo
diante dele, por vezes nos anestesiamos
diminuindo-nos
comprimindo nossos pedaços, órgãos, agenciamentos
enquanto secam as nossas artérias
por outras vezes, saltamos
sabendo que o chão nos espera
mas, no ar, fazemos graça
rimos, criamos, gozamos
e perdoamos toda aquela merda de crença
que nos entubou por completo
danem-se os tubos
a louca está à solta
avisem os seguranças
para desistirem
não trabalhamos com contenção de danos
a vida é rabiscar, quebrar, deixar marca nos muros,
nas ruas, palacetes,
e corpos por aí afora
louca, solta, eu desliguei os aparelhos
e nem você nem ninguém
nenhum eu interno
vai me impedir de dançar
eu me asfixiava
mas você se dizia feliz,
em sua melhor forma e fase;
enquanto eu via só via apatia
tentei ser paciente
busquei falhas em mim
escavei cavernas interiores
fundas, escuras, densas,
proféticas
encontrei tantas sombras
me perdi nessas sombras
pensando ser eu
toda a falha do mundo
e pensando sermos nós
toda a minha raiz
pensando sermos nós
toda a minha luz
(se e é que eu tinha alguma)
nós, a lanterna que guiava essas buscas profundas
nós, o espaço seguro ?
nós, a certeza
- mas certeza de quê?, eu me perguntava
e te perguntava em sequência
você me dizia: - de tudo, do que quiseres, basta escolher e eu vou atrás
passávamos diante de vitrines de lojas
baratas ou chiques,
enormes ou pequeninas
e, ao primeiro olhar meu,
você me dizia:
- você quer, linda ? eu te dou.
mas não era isso que eu queria
não é o que eu quero
e eu nunca estive à venda
em seguida, vinha-me aquela sensação,
a de queda livre
imersa numa solidão profunda
dentro da caverna escura do meu eu
e a lanterna queimou
eu berrava, pedindo ajuda
você vinha, mas não me via
nunca me encontrou nesses labirintos macabros
nunca entendeu as minhas trevas
pensava ser drama
e usava essa palavra
pra diminuir o que eu sentia
pra calar a minha boca
eu, que olhava pra dentro
e via infinitas feridas e garras
dores e maldades
recolhia-me mais e mais
e constatava mais uma vez
ser eu todo o mal
eu brigava e me debatia
numa guerra comigo mesma
a qual eu te permitia observar
como mero expectador,
voyeur de uma cena de luxúria
feita sob medida
especialmente para você
porque partícipe cê nunca foi;
diferentemente,
cê me deixou aos leões
e acreditava salvar-me deles
(ou seja, de mim mesma)
com uma penca de notas de reais
que de reais não têm nada
são apenas ficção de poder
assim como o poder que você tinha sobre mim:
ficcional
e a ficção é coisa à beça, eu sei
tanto sei que me faço exprimir
por essas palavras
até hoje
pego os meus restos
resquícios dessa história inacabada em mim
e busco encaixar em palavras
palavras as quais eu não gosto
me são amargas
indigestas
me trazem enjôo;
enjôo e dor
quando me percebo,
minha testa está enrugada
e eu pareço ter envelhido 5, 7 anos
em apenas 1
quase uma j.k.
minha cabeça toda dói
meu corpo está desforme
e eu não me refiro à estética da coisa,
quero dizer energeticamente desforme
não conheço-me minhas funções
meus destinos foram desequilibrados demais
chega a noite e, sozinha, sinto-me uma ameba
fracassada,
uma coitada;
sinto-me triste
e duvido de todas as minhas escolhas
me dá vontade de sair porta afora
correr, gritar
arrancar as roupas, me arranhar
e ir mergulhar na praia
depois de correr a lagoa inteira
para lá chegar
e quem sabe em seguida
me afogar nas águas de um mar abalado por uma ressaca tremenda
quem sabe ?
ou então eu poderia
sair correndo
pegar os poucos putos no bolso que eu tenho
comprar uma passagem pra puta que ainda não pariu
e ir viajar, apenas com documentos e roupa do corpo,
com a puta que eu sou
e de repente parir alguma coisa em algum canto novo,
mais fértil do que a infertilidade que se apossa de mim hoje,
parir um suspiro, uma história,
um rasgão nesse roteiro de merda
insosso, contaminado
tóxico até dizer chega
que ficou essa minha vida
depois que eu me dei conta
que nem eu te tinha
e nem você me tinha
e que nenhum de nós era oxigênio pra ninguém
e que nesse tempo todo eu tava respirando por aparelhos,
toda entubada
quero arrancar essas merdas de tubos
deixar tudo pelo chão
nesse hospital todo branco que me dói a cabeça
que me cega
e se for pra sangrar, eu sangro
adoro vermelho, não vejo problemas
se for pra morrer, também
todo mundo morre
a morte é bobagem,
coisa pouca
previsível e, quando chega, indolor
c'est fini, c'est tout
a vida é quem arranca a nossa pele
e cria outra por cima
queimadura em cima de queimadura
a carne viva é estado de alerta
onde a gente sente tudo
o gosto da pedra,
o cheiro do amor
o tato da noite
o som do espaço aéreo
e avistamos a solidão
arrebatados pelas sinestesias das tonalidades várias
de vida e morte,
sentimos medo
diante dele, por vezes nos anestesiamos
diminuindo-nos
comprimindo nossos pedaços, órgãos, agenciamentos
enquanto secam as nossas artérias
por outras vezes, saltamos
sabendo que o chão nos espera
mas, no ar, fazemos graça
rimos, criamos, gozamos
e perdoamos toda aquela merda de crença
que nos entubou por completo
danem-se os tubos
a louca está à solta
avisem os seguranças
para desistirem
não trabalhamos com contenção de danos
a vida é rabiscar, quebrar, deixar marca nos muros,
nas ruas, palacetes,
e corpos por aí afora
louca, solta, eu desliguei os aparelhos
e nem você nem ninguém
nenhum eu interno
vai me impedir de dançar